24 novembro 2011/Esquerda.net http://www.esquerda.net
Esta é a sétima greve geral1 convocada em Portugal desde o 25 de abril de 1974, a terceira convocada em conjunto por CGTP e UGT e a segunda no espaço de um ano. E não é por acaso que se realiza nova greve geral em tão curto espaço de tempo.
Enfrentamos a mais violenta política dos últimos 37 anos contra a maioria da população. Uma política de aumento desenfreado de impostos, de cortes de subsídios, salários e pensões, de aumentos de horários de trabalho, numa palavra de roubo descarado do salário, de aumento desenfreado da exploração.
Uma política conduzida por um governo, que em menos de seis meses rompeu com todas as promessas que os partidos que o compõem fizeram, rasgando o contrato eleitoral com que foram eleitos. Um governo que mente descaradamente e em que, na própria véspera da greve, o seu ministro mais importante, tem o descaramento de vir dizer que “não é tempo de alimentar animosidades, conflitos ou divisões” nem de “concentrar a atenção em interesses particulares e corporativos”. Exatamente o que esse ministro pratica à frente das finanças do país, cortando salários e pensões, para desviar dinheiro para bancos e setores financeiros. Ministro, que afinal mais não faz que aplicar estritamente as ordens do banco central europeu e da direita alemã.
Esta greve geral é, pois, um grito de protesto, uma ação pacífica, mas enérgica, contra a desmedida violência governamental.
A greve geral de 24 de novembro de 2011 é, no entanto, muito mais que um protesto. É um passo num caminho. Um passo de unidade, um dar as mãos entre trabalhadores e desempregados, precários e não precários, funcionários públicos e trabalhadores do setor privado. Pode ainda ser um elo essencial para unir diferentes setores sociais de trabalhadores, nomeadamente industriais e de serviços.
E, pela primeira vez em Portugal, será uma greve geral acompanhada de ampla mobilização popular, com concentrações e manifestações por todo o país. Ações que mostrarão que não se trata de um dia feriado mas de um dia de protesto, e que pelo exemplo mostra o caminho que inevitavelmente teremos de trilhar no enfrentamento da política austeritária.
Já há um ano a greve geral que então se realizou em Portugal, se incorporou num conjunto de ações que se verificavam nalguns países europeus, nomeadamente na Grécia.
Desta vez, porém, esta greve geral junta pontes numa luta que perpassa por toda a Europa. De facto, este governo está a aplicar zelosamente a política imposta na União Europeia pelos Governos de Alemanha, França e Reino Unido. Uma política de feroz austeridade contra a maioria da população e de favorecimento descarado e desmedido do capital financeiro, dos 1% mais ricos do planeta, como muito bem foi denunciado pelos movimentos Occupy.
Mas esta política do diretório da União Europeia, protagonizada pela direita política de Alemanha, França e Reino Unido, mas que tem tido o apoio e participação dos partidos da Internacional socialista, só tem um ponto de convergência: lançar as consequências da crise sobre quem trabalha, para proteger os lucros e as benesses do setor financeiro e dos mais ricos da Europa. É uma política de egoísmo de classe, de austeridade sobre quem trabalha, de aumento da exploração, redução drástica dos salários e corte nos serviços públicos. Uma política contra a maioria esmagadora da população europeia, contra a Europa social e o modelo social europeu.
Contudo, esta política tem a consequência de erguer de novo os terríveis fantasmas da história europeia, que por vezes se pensava para sempre enterrados. Já está a espalhar a xenofobia, nomeadamente quando os governantes dos países do norte da Europa acusam os povos do sul de serem os responsáveis da crise, acusação acompanhada dos piores insultos. Mas como política egoísta, inevitavelmente levantará todos os demónios da história europeia, não é por acaso que vemos aumentarem as discordâncias e conflitos entre as principais potências da UE, apesar dos seus governantes partilharem da mesma visão austeritária.
A greve geral de hoje, neste pequeno país de apenas 10 milhões de habitantes, é assim também um contributo para lançar pontes entre os povos europeus, para juntar forças numa exigência comum: Defendemos uma Europa social e dos povos, defendemos a liberdade e, por isso, lutaremos cada vez próximos e mais unidos contra a política austeritária que faz renascer os piores horrores da história da Europa.
1 A primeira greve geral após o 25 de Abril realizou-se a 12 de fevereiro de 1982, tendo seis meses depois (a 11 de maio) havido nova greve geral. A terceira, e a primeira convocada conjuntamente por CGTP e UGT, teve lugar a 28 de março de 1988. A quarta greve geral teve lugar a 10 de dezembro de 2002 e a quinta a 30 de maio de 2007, ambas convocadas apenas pela CGTP. A sexta greve geral foi há um ano, a 24 de novembro de 2011. (ler a propósito “Greves gerais: de 1911 a 2002”)
*Carlos Santos Dirigente do Bloco de Esquerda.
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