18 março 2011/Vermelho http://www.vermelho.org.br
A Cinelândia não será mais o palco do indesejado discurso que o presidente norte-americano, Barack Obama, pretende fazer no domingo (29), durante sua visita ao Brasil. Alvo de protestos dos movimentos sociais, de partidos políticos e de inúmeras lideranças, o pronunciamento será transferido para um local fechado, provavelmente o Theatro Municipal do Rio de Janeiro — que também fica na região central da cidade.
Apesar da mudança, a agenda de manifestações contra Obama está confirmada e foi decisiva para o recuo. Os americanos chegaram a exigir a presença de seus atiradores de elite na Cinelândia — o que irritou até o Itamaraty.
Segundo o jornalista Kennedy Alencar, da Folha.com, a própria presidente Dilma Rousseff “ficou contrariada com a decisão do colega americano de discursar no Rio de Janeiro”. Segundo ele, “cresceu nos últimos dias a tensão entre os diplomatas brasileiros e americanos a respeito da organização da viagem, sobretudo em relação ao discurso no Rio”.
“Já faz algumas semanas que o Palácio do Planalto vem tentando dissuadir a Casa Branca. Primeiro, auxiliares da presidente manifestaram dúvida em relação ao êxito de público do comício de Obama numa praça pública. Depois, alegaram que haveria dificuldade para garantir toda a segurança necessária ao homem mais poderoso do mundo. Por fim, foi revelado aos americanos que Dilma achava estranha a ideia. Reservadamente, um ministro chegou a dizer que equivaleria a um discurso da brasileira na Times Square de Nova York”, escreve Kennedy.
Militares do Exército ocupam desde o início desta manhã pontos estratégicos do centro do Rio, como parte do esquema de segurança para a vista de Obama. Soldados da Brigada de Infantaria Paraquedista estão localizados, por exemplo, em pontos das avenidas Presidente Vargas e Rio Branco.
Um veículo blindado militar está posicionado na Avenida Rio Branco, a principal do centro do Rio, próximo à Biblioteca Nacional, em frente à Cinelândia. Homens do Exército também fazem parte do esquema de segurança, ao lado de policiais federais, estaduais e agentes do Serviço Secreto da Casa Branca. Em Brasília, o esquema de segurança ganhou o reforço do Corpos de Bombeiros e da Polícia Militar.
No Rio, antes de fazer o discurso, Obama deverá visitar o Cristo Redentor junto à mulher, Michelle, e às filhas Malia, de 10 anos, e Sasha, de 7. Devido a esse esquema de segurança paranoico, eles encontrarão um Cristo completamente isolado, sem turistas e funcionários. Devido ao bloqueio do monumento, até equipes de limpeza e ascensoristas foram dispensados — o que obrigará a própria equipe do presidente a operar os elevadores que dão acesso ao pé da estátua.
A Arquidiocese do Rio, que administra o santuário do Cristo Redentor, passará o controle do espaço à equipe de Obama no fim da noite de sábado. Os seguranças terão liberdade para realizar o reconhecimento da área, varreduras e ações de patrulhamento antes da chegada da família do presidente. A família Obama também pretende ir, ainda, à Cidade de Deus, na zona oeste.
Manifestações
Apesar do apoio do governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ), a presença de Obama não sensibilizou as forças progressistas. Segundo as entidades — que lançaram o manifesto “Obama é persona non grata no país” —, a visita faz parte de um conjunto de estratégias de Washington para tentar reverter o cenário de crise vivido pelos Estados Unidos hoje.
Os protestos terão três eixos — ou palavras-de-ordem: “Obama: são muitas guerras para quem fala em paz!”, “Obama, go home!” e “Obama, tire as mão do nosso pré-sal!”. Nesta sexta (18), às 16 horas, será realizada uma passeata da Candelária à Cinelândia.
Já no domingo (20), as entidades organizam ações diversificadas durante o pronunciamento de Obama. As manifestações acontecerão em diversos pontos da cidade e deverão utilizar humor e sarcasmo para expressar seu repúdio e indignação. (Da Redação, com agências)
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Brasil/POLÍTICA DE OBAMA É A MESMA DE BUSH
Doutor em ciência política pela USP e autor de mais de 20 livros, muitos tratando de Brasil e Estados Unidos, o professor Luiz Alberto Moniz Bandeira, 75, fala sobre a visita de Obama. (EL)
18 março 2011/Vermelho http://www.vermelho.org.br
Folha: O que buscam os EUA com essa visita?
Luiz Alberto Moniz Bandeira: O maior interesse dos Estados Unidos, no momento, é abrir mercados para as suas exportações e garantir seu abastecimento energético, do qual é absolutamente dependente. E o Brasil não só apresenta um grande potencial de crescimento como também deverá se tornar uma das maiores fontes de petróleo com a exploração do pré-sal. Com a instabilidade no Oriente Médio, a possibilidade de que o Brasil possa suprir suas necessidades é fundamental para os EUA.
Folha: Quais devem ser os principais temas?
MB: Obama tentará convencer Dilma de que a moeda desvalorizada da China é maior problema para o Brasil do que para os EUA. Entretanto, em 2010, a China conseguiu um superavit comercial de US$ 181 bilhões com os EUA. Ao contrário do que ocorreu com o Brasil, um deficit de cerca de US$ 7 bilhões. A verdade é que os EUA, para aumentar a competitividade de suas exportações, tratam de desvalorizar o dólar. Obama alimenta a pretensão de alinhar o Brasil com os EUA, mas é difícil consegui-lo. A China provavelmente já é o maior investidor estrangeiro no Brasil.
Folha: A relação comercial com os EUA pode mudar?
MB: Não creio. Devido aos imensos déficits comercial e fiscal e a uma dívida pública que ultrapassa US$ 14 trilhões -virtualmente igual ao seu PIB- o interesse dos EUA não é importar, mas exportar. Precisa reduzir seu deficit comercial, aumentando exportações para também conter a alta de desemprego.
Folha: No Brasil o antiamericanismo é maior ou menor ao do passado?
MB: É necessário entender que a defesa dos interesses nacionais não significa antiamericanismo. O Brasil e os EUA têm contradições de interesses, assim como convergências. As relações entre os dois países nem sempre foram suaves, como geralmente se supõe. No século 19, o Brasil suspendeu três vezes (1827, 1847 e 1869) suas relações diplomáticas com os EUA, apesar de destinar para lá, desde 1848, a maior parte de suas exportações (café). O relacionamento só melhorou a partir de 1870, quando o Brasil se tornou extremamente dependente das exportações de café para lá.
Folha: Como o sr. avalia a situação econômica e política dos EUA?
MB: A situação econômica e financeira dos EUA é muito ruim e dificilmente Obama poderá superá-la. É similar à da Grécia e de alguns outros Estados na União Europeia. Os EUA têm a maior dívida externa líquida do mundo. A vantagem deles consiste no fato de que o dólar é ainda a moeda fiduciária, a moeda internacional de reserva.
Folha: O sr. concorda com a avaliação de que Obama cedeu aos interesses do mercado financeiro? Em que ele se diferencia de Bush?
MB: Ele cedeu a todos, ao mercado financeiro, aos neoconservadores, que continuam a dominar a máquina do Estado americano, ao complexo industrial-militar etc. A secretária Hillary Clinton a ele se sobrepõe na política exterior. Até agora Obama quase nada cumpriu do que prometeu. Sua política, na essência, é a mesma da que realizou George W. Bush. A diferença está no estilo e na tonalidade. Ambos defendem interesses imperiais dos EUA. (Fonte: Folha de S.Paulo)
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