Rio, 14 março 2011 - Em sua segunda palestra como ex-presidente, Luiz Inácio Lula da Silva falou longamente sobre democracia, exaltando a forma como foi conquistada e é aplicada no no Brasil. Durante o 6º Fórum Anual da rede de televisão árabe Al Jazeera, que aconteceu domingo no Qatar, o ex-presidente cobrou ainda uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU para um país da América Latina.
- Hoje, os organismos multilaterais precisam se reformar, para que possam dar voz e vez para todos. Eles representam a geografia política de 1945 e não a geografia política de 2011. Como se explica que os países árabes não tenham pelo menos um representante, um assento no Conselho de Segurança? Como se explica que a China esteja no conselho, e o Japão não? Como se explica que a África não tenha assento? Como se explica que a América Latina não tenha nenhum representante permanente no Conselho de Segurança? - questionou Lula durante o evento.
O Conselho de Segurança tem 15 membros, cinco deles permanente - China, França, Reino Unido, Rússia e Estados Unidos -, que tem poder de veto nas decisões. Os outros dez membros são eleitos para um mandato de dois anos. O Brasil, que há anos tenta uma cadeira permanente, fica no Conselho até dezembro de 2011. Entre as atribuições do órgão está o poder de autorizar intervenções militares em algum país. Em geral, todos os conflitos e crises políticas mundiais são tratados entre os membros, para que haja intervenções militares ou missões de paz.
Lula seguiu com os questionamento sobre o conselho e disse que o órgão "se tornou mais um clube de amigos do que um órgão de governança global para tentar ajudar a compreender as questões que enfrentamos no mundo de hoje":
- É por isso que brigamos tanto por uma mudança no Conselho de Segurança, que deveria ser uma instituição multilateral capaz de dar voz ativa, por exemplo, na solução das crises no Oriente Médio (...). Mas para que isso aconteça, é necessário que o Conselho de Segurança seja mais representativo e tenha muito mais pessoas. É necessário trazer mais membros, novos membros. Precisamos de novos negociadores. É necessário ter vontade política.
Lula lembra Dilma durante discurso no Qatar
Em tom de cobrança aos países desenvolvidos, o ex-presidente explicou por que mudou os rumos da política externa no Brasil. Segundo ele, o país esteve subordinado por um longo tempo à lógica determinada pelas grandes potências e estava virando as costas para a África e América Latina.
- Eu costumava dizer que era preciso mudar essa lógica da geopolítica mundial e os fundamentos das políticas comerciais. Então, é por isso que não basta termos democracia nos nossos países. É necessário prevalecer a democracia nas relações internacionais e nos organismos internacionais
Em discurso em que falou até de sua infância pobre no Nordeste e das três derrotas consecutivas à Presidência do Brasil, Lula se derreteu em elogios à democracia no país:
- Não quero ser presunçoso ou arrogante, mas não tenho conhecimento de qualquer outro governo que tenha exercido a democracia com as últimas conseqüências como a que temos exercido.
Após exaltar números de seu governo e a atuação diante da crise financeira mundial, Lula lembrou da presidente Dilma Rousseff, mas sem citá-la nominalmente:
- Elegemos pela primeira vez em nossa história uma mulher como presidente da República. Você não pode imaginar o orgulho que eu sentia sendo o primeiro operário a ser eleito presidente da República no momento em que uma mulher tomou posse como presidente do meu país?
Durante a palestra, Lula falou também dos conflitos no Oriente Médio pela busca da democracia:
- Eu quero mostrar a minha solidariedade a todos aqueles que no Oriente Médio e em qualquer parte do mundo que lutam pela liberdade, que lutam pela democracia, que lutam por justiça social. (Globo)
Leia também:
Na estreia em palestras, Lula foge do improviso e faz elogio de seu governo
Nenhum comentário:
Postar um comentário