sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Angola/A LIBERTAÇÃO DE ANGOLA E DA ÁFRICA AUSTRAL

12 de Novembro 2014, Jornal de Angola http://jornaldeangola.sapo.ao (Angola)

Benjamim Formigo

A 11 de Novembro de 1975, a Independência de Angola foi um ponto marcante, senão mesmo o momento de viragem, do futuro da África Austral ainda colonizada ou dominada por independências declaradas e regidas por minorias, como na Rodésia e a África do Sul ou a Namíbia sob ocupação do regime do apartheid.

O colonialismo tremeu e os seus mentores tiveram consciência de que no máximo podiam adiar o seu fim. Havia condições regionais, na Rodésia, África do Sul e até no instável regime de Mobutu Sesse Seko, favoráveis a uma intervenção externa que, se não conseguisse evitar a Independência de Angola, dividisse o país e a sua riqueza. Pretória e o Estado ilegal da Rodésia do Sul viam com receio a independência de Moçambique. A Rodésia porque sentia que Moçambique ia ser a base de apoio da guerrilha independentista que ameaçava a supremacia branca. A África do Sul por recear que ali se estabelecesse também uma base para o ANC.
 
O ANC veio a receber apoio de Angola independente, tal como a SWAPO, movimento de libertação da Namíbia, encontrou um santuário em território angolano. Para Angola
o apoio ao ANC e à SWAPO era essencial por razões de princípio, mas também porque pressionava Pretória contra as violações fronteiriças que há anos se registavam. As forças sul-africanas, nas zonas do Cuando Cubango e do Cunene desde o final da década de 60, colaboravam com o Exército português em material e mesmo com destacamentos militares no terreno, operando em apoio às forças coloniais.

Os Estados Unidos, numa primeira fase deram o seu apoio à FNLA, no Norte de Angola, financiando através de Mobutu a guerrilha de Holden Roberto e dando cobertura às incursões de forças regulares zairenses em território angolano. A Batalha do Kifangondo desbaratou as forças conjuntas da FNLA, tropas regulares zairenses e mercenários financiados via Mobutu, que, conforme relatórios da CIA desviava em seu proveito pessoal uma considerável parte do dinheiro que lhe era entregue. O Sul foi deixado primeiro aos sul-africanos, só mais tarde a CIA concorreu com o financiamento da UNITA.

A luta que se travou inicialmente, antes do 11 de Novembro de 1975, visava impedir que a Independência pudesse ser declarada em especial pelo MPLA, único partido que controlava a capital e que tinha condições objectivas para o fazer com credibilidade.

Angola e Moçambique independentes, mas especialmente Angola, punham em causa o status geoestratégico da região, obrigavam Pretória a abrir mais frentes de combate no pressuposto de que tanto o ANC como a SWAPO iam receber apoio das ex-colónias portuguesas. Um apoio que podia não ter sido militar se na altura tivesse havido a abertura necessária à solução política.
 
Mas, se Pretória não acreditava na solução política ou se queria agarrar-se aos privilégios da minoria branca e dos grandes conglomerados empresariais que dominavam a economia do país, Washington, Paris, Bona e Londres receavam a penetração comunista e a ameaça aos seus interesses económicos e financeiros.

Os sul-africanos foram sustidos no Ebo, como os zairenses em Kifangondo e a Independência foi declarada em Luanda por Agostinho Neto. Daí para a frente a guerra fomentada pela CIA e a África do Sul do apartheid, visava a divisão do país. O mito da Jamba nos confins do Cuando Cubango protegida pela aviação de Pretória era uma peça desse jogo sem sentido.

José Eduardo dos Santos viu-se no poder com pouco mais de 30 anos. As suas missões principais eram então consolidar a Independência e garantir a integridade territorial de Angola. A diplomacia interna e externa do Presidente teve momentos que, se não foram únicos, poucas vezes um Chefe de Estado teve de gerir.
A presença cubana no território foi fulcral para a declaração da independência e para suster o primeiro impacto das tropas sul-africanas que acompanhavam a UNITA. Todavia essa mesma presença servia à propaganda internacional para agitar o “espantalho” do perigo comunista na África Austral e o risco que os interesses ocidentais corriam com uma “base comunista” em Angola, virada ao Atlântico, outra em Moçambique, virada ao Índico. Era, dizia-se, a rota do petróleo e as rotas comerciais que ficavam ameaçadas com esta independência.  A verdade é que as empresas norte-americanas, designadamente as petrolíferas, nunca tiveram dificuldades em operar no país e ironicamente chegaram mesmo a ser protegidas por forças cubanas. Em contrapartida os aliados dos americanos neste confronto, os sul-africanos, tentaram sabotar as instalações petrolíferas do Malongo se o comando do capitão DuToit não tivesse sido interceptado e neutralizado pelas FAPLA.

Em 1975, o hastear da Bandeira Angolana trouxe receios perante uma realidade que não podia ser escamoteada. O equilíbrio de forças na África Austral ia mudar de forma substantiva. O apartheid foi condenado à extinção nesse dia juntamente com o domínio sul-africano da Namíbia, o regime de Mobutu nunca se podia consolidar e curiosamente foi a reacção do apartheid e da Rodésia branca que levou à criação do grupo dos Países da Linha da Frente.

 Hoje a SADC tem a potencialidade de uma organização regional a que pertencem as duas potências económicas da região, Angola e África do Sul. Tudo isto porque há 39 anos foi içada uma Bandeira e proclamada a Independência de Angola.

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