quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Angola/Adeus ao lutador da Nação

19 novembro 2014, Jornal de Angola http://jornaldeangola.sapo.ao (Angola)

Kumuênho da Rosa e Adelina Inácio

Os restos mortais do patriota e deputado Afonso Domingos Pedro Van-Dúnem “Mbinda”, falecido sexta-feira aos 73 anos, foram ontem a enterrar no Cemitério do Alto dos Cruzes, em cerimónia que contou com a presença do Presidente da República, José Eduardo dos Santos, ministros, deputados, magistrados, representantes de partidos políticos, de igrejas e da sociedade civil.

A cerimónia contou com a presença de representantes dos órgãos de soberania, membros do corpo diplomático e delegados de partidos amigos do MPLA em São Tomé e Príncipe e também de Cabo Verde. A Namíbia, país vizinho cuja independência, em 21 de Março de 1990, teve o envolvimento directo do malogrado, enquanto ministro das Relações Exteriores, foi representada pela ministra dos Negócios Estrangeiros.

Afonso Van-Dúnem Mbinda tem o seu nome gravado na história da libertação da África Austral, pelo papel decisivo na aplicação da resolução 345/78 do Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre a Independência da Namíbia, a retirada das tropas invasoras sul-africanas do sul de Angola, a
libertação de Nelson Mandela, o fim do regime do apartheid na África do Sul e o regresso das  tropas internacionalistas cubanas ao seu país.

Coube ao secretário-geral do MPLA a leitura do elogio fúnebre a Afonso Van-Dúnem Mbinda. Julião Mateus Paulo “Dino Matrosse" ressaltou a infeliz coincidência da data da morte do seu companheiro no grupo de quadros seleccionado, em 1963, pelo então Comité Director do MPLA, para o curso de Ciências Políticas na Escola Konsomol, em Moscovo.
Dino Matrosse lembrou da chegada de Afonso Mbinda a Matadi, no dia 14 de Novembro de 1961, após uma arriscada fuga com os seus companheiros, a partir de Angola, no decurso das repressões e mortes que se seguiram aos acontecimentos de 4 de Fevereiro e 15 de Março do mesmo ano. Foi também num 14 de Novembro, recordou o dirigente do MPLA, que Afonso Van-Dúnem Mbinda, como mestre de cerimónia, dirigiu o acto de empossamento de António Agostinho Neto, como primeiro Presidente da então República Popular de Angola.

“As memórias que temos do camarada Mbinda, da sua persistência, da sua determinação, bravura e firmeza, do seu espírito batalhador, dos sacrifícios suportados, dos perigos cruzados e superados, das lutas travadas em vários domínios e frentes da nossa acção política ao longo do nosso processo político e revolucionário, elevam-no para o púlpito dos grandes homens ao serviço da pátria", disse Dino Matrosse.

O dirigente do MPLA e contemporâneo de Afonso Van-Dúnem Mbinda recordou ainda a passagem do malogrado pelo Ginásio Futebol Club, associação dinamizada por Tomás Sebastião dos Santos, que integrou outros jovens de então como Mário Santiago, José eduardo dos Santos, Brito Sozinho, Francisco de Almeida, Balduíno Bwanga e Pedro de Castro Van-Dúnem “Loy". 

“Era uma associação  recreativa e cultural que tinha como propósito despertar nos jovens da época a consciência nacionalista e patriótica, bem como congregar e mobilizar estudantes para a luta pela independência nacional", recordou. Dino Matrosse lembrou o trabalho de Mbinda nos “corredores da diplomacia" ao serviço da libertação nacional e mais tarde da afirmação de Angola como nação independente. Referiu-se ao começo na Zâmbia e posteriormente na Tanzânia, onde participou por diversas vezes em missões secretas para o transporte de armas de Dar-Es-Salaam para Lusaka e de lá para o interior de Angola e falou das negociações  em Mindelo, Gbadolite, Lusaka, Genebra, Cairo, Brazzaville, Franceville, Libreville, Moscovo e Washington, até aos Acordos de Nova Iorque.

Além da leitura do elogio fúnebre, o enterro de Afonso Van-Dúnem Mbinda ficou marcado pelo depoimento de uma filha, que fez uma declaração, destacando o pai, companheiro e amigo “zeloso e dedicado”, sempre disposto a ajudar,  apesar das responsabilidades enquanto servidor público. Foi também destacado o exemplo de vida de Afonso Van-Dúnem Mbinda ao concluir a sua licenciatura em Direito aos 70 anos, na Universidade Agostinho Neto.

Na Casa das Leis, deputados, magistrados, ministros, entidades religiosas, membros de organizações da sociedade civil, representantes das Forças Armadas e da Polícia Nacional, renderam a última homenagem a Afonso Van-Dúnem “Mbinda". O Presidente da Assembleia Nacional considerou o nacionalista um lutador incansável pela dignidade e bem-estar social dos angolanos. No livro de condolências aberto na Casa das Leis, Fernando da Piedade Dias dos Santos escreveu que Afonso Mbinda foi um “homem corajoso, dedicado, solidário, sensível e de espírito aberto" e que desde muito cedo se  dedicou à luta de libertação nacional.

O líder do Parlamento destacou o deputado como um dos mais dignos filhos que lutou pela independência de Angola e de África, pela paz e reconciliação nacional. Para Fernando da Piedade Dias dos Santos, Afonso Mbinda deixa um legado que deve ser seguido pelos jovens angolanos, a quem cabe a responsabilidade de concretizar os seus objectivos e sonhos.

Para o vice-presidente do MPLA, Afonso Mbinda foi um grande combatente da causa angolana, sempre disposto a enfrentar os problemas e a vencer as dificuldades. “Por isso merece toda a homenagem neste momento que nos deixa\", disse Roberto de Almeida. O ministro das Relações Exteriores, Georges Chikoti, considerou a morte de Afonso Van-Dúnem Mbinda “uma grande perda para o país", que fica assim privado de um diplomata que engrandeceu o nome de Angola no concerto das nações. Para o ministro da Defesa, Afonso Mbinda foi um grande patriota que dedicou toda a sua vida à causa de Angola e da paz. João Lourenço disse guardar boas recordações do malogrado: “um homem batalhador”. A grandeza do ex-deputado também foi destacada pelo Procurador Geral da República, João Maria de Sousa, que considerou a morte de  Mbinda um “duro golpe para o país".

Já o governador de Luanda, Graciano Domingos, lembrou Afonso Van-Dúnem Mbinda como um diplomata que teve intervenção decisiva no processo de democratização do país e da África Austral. Graciano Domingos disse que o nacionalista deixa um legado que inspira a juventude. 

O governador do Bengo, João Miranda, que também já foi ministro das Relações Exteriores, lembrou os momentos que partilhou com Afonso Van-Dúnem Mbinda, quando este era embaixador nasNações Unidas. O deputado França Ndalu, que por diversas vezes acompanhou Mbinda nas negociações para os acordos de Nova Iorque, considerou Mbinda um “amigo e militante cumpridor das suas tarefas". 

O nacionalista Jaime Madaleno da Costa Carneiro também recordou Afonso Van-Dúnem Mbinda como um irmão e grande companheiro. “Partilhamos muitos momentos na Ilha de Luanda e no Bairro Operário. Fui substitui-lo como director de gabinete do Presidente António Agostinho Neto e sempre tivemos uma grande amizade. Perdemos todos um grande homem, um companheiro e um amigo", disse.

O deputado Raul Danda, líderda bancada da UNITA, considerou Afonso Van-Dúnem Mbinda “um verdadeiro patriota que amou Angola e os angolanos”. O presidente do Grupo Parlamentar da CASA-CE, André Mendes de Carvalho, destacou o contributo de Afonso Mbinda na conquista da independência de Angola e na preservação da soberania nacional e na conquista da paz. 

Numa mensagem de condolências, o Conselho de Administração do Memorial António Agostinho Neto refere que Afonso Van-Dúnem Mbinda foi “homem de coragem, que desde muito jovem abraçou a causa da luta de libertação nacional".


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