quarta-feira, 14 de julho de 2010

A ASCENSÃO DA CHINA E A DECADÊNCIA DOS EUA NA AMÉRICA LATINA

O contrato entre China e Argentina no valor de 10 bilhões dólares assinado em Pequim na terça-feira (13) é emblemático das mudanças que estão em curso na conjuntura econômica internacional, num contexto geral de crise do capitalismo e da ordem imperialista mundial.

14 julho 2010/Vermelho http://www.vermelho.org.br

Por Umberto Martins

O financiamento destinado ao ramo ferroviário do país sul-americano consolida um novo status do gigante asiático, o de provedor de capitais para os países posicionados na chamada periferia do sistema, condição que até então era privilégio exclusivo das grandes potências capitalistas (EUA, Europa, Japão) e das instituições da banca, o FMI e o Banco Mundial.

Exportação de capitais
A China se destacou na exportação de mercadorias, tornando-se, sob este aspecto, a maior potência comercial do planeta, exteriorizando a extraordinária expansão de sua indústria. Em 2009, ano de crise e contração do mercado mundial, o país ultrapassou a Alemanha no ranking das exportações, arrebatando o primeiro lugar. Os EUA recuaram para a terceira posição. No mesmo ano, a próspera nação asiática tornou-se a maior parceira comercial do Brasil, deslocando os EUA.

A exportação de mercadorias é fundamental, mas não é tudo. Mais relevante na projeção de poder e influência econômica internacional das nações é o que Lênin, o líder da Revolução Soviética, caracterizou como exportação de capitais, que podemos traduzir como investimentos diretos (sobretudo aquisições e instalações de empresas) e indiretos (empréstimos). É isto que a China passa a fazer, e em alto estilo, neste momento histórico, rivalizando com as potências capitalistas do chamado Ocidente.

O potencial de investimentos chinês deriva de suas reservas internacionais de cerca de 2,5 trilhões de dólares, as maiores do mundo. Ao priorizar os investimentos diretos, o governo comunista procura o caminho para transformar reservas em ativos reais no exterior, em vez de títulos emitidos pela Casa Branca ou hipotecas, aplicações que Karl Marx contabilizaria como capital fictício, sujeito a brusca depreciação como se viu na crise imobiliária.

Deslocamento geopolítico
Este movimento da economia, que tem caráter objetivo, tem notáveis repercussões geopolíticas, pois ocorre num momento de crise da hegemonia econômica e política dos Estados Unidos e da ordem econômica mundial, em que também rola o drama da decadência (relativa) da Europa e do Japão. É a expressão do que alguns observadores chamam de deslocamento do poder econômico global do Ocidente para o Oriente (leia-se China).

Enquanto avança o papel da China no jogo internacional das aquisições e implantação de empresas no exterior, declina a posição dos EUA que, conforme notou Hobsbawm, virou um importador líquido de capitais. Hoje, os norte-americanos comparecem ao fabuloso mercado de aquisições mais como vendedores que como compradores.

O novo status econômico da China, ou seja, o de provedor de capitais, é um fator que pode contribuir para reduzir ou mesmo tornar irrelevante a dependência histórica das economias latino-americanas em relação a fontes de financiamento tradicionais (EUA, Europa e Japão).

Neste sentido, a ascensão da China dialoga com o novo cenário político vivido por muitos países da América Latina e tem a ver com a luta por mudanças e o anseio de soberania, que passa, em primeiro plano, pela contestação do domínio imperialista exercido pelos EUA, a derrota do neoliberalismo e a afirmação de novos projetos de desenvolvimento, com soberania, democracia e valorização do trabalho.


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China avança na AL: contrato de US$ 10 bilhões com a Argentina

13 julho 2010/Vermelho http://www.vermelho.org.br

China e Argentina acertaram nesta terça-feira a assinatura de contratos no setor ferroviário no valor de US$ 10 bilhões, informou à AFP o secretário argentino dos Transportes, Juan Pablo Schiavi, membro da comitiva da presidente Cristina Kirchner em Pequim.

O fato sugere a gradual consolidação de um novo papel para a potência asiática, que passa a funcionar como centro provedor de capitais para investimentos no exterior. Através dessas aplicações a China avança na economia internacional e, em especial, na América Latina, o que desperta ciúmes e preocupações nos EUA, que sempre consideraram a região uma espécie de quintal privativo.

No total, serão assinados dez projetos para um período de dois a cinco anos, que incluem, em particular, compras de material da China e investimentos na Argentina para a eletrificação das linhas ferroviárias, afirmou Schiavi. (Com agências)

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