quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Brasil/25 ANOS DO ASSASSINATO DE MARÇAL DE SOUZA

Conselho Indigenista Missionário http://www.cimi.org.br

Campo Grande, 24 de novembro de 2008


Marçal de Souza vive!!!

“Os monstros da tirania cortaram cabeças e alimentaram-se de sangue! tiveram forças para matar o corpo, mas com suas armas e torturas não puderam matar a idéia. Porque esta é sagrada e tão grande como o mundo! A idéia não morre!”

Marçal de Souza (Tupã'i)

Marçãl de Souza, liderança indígena guarani, tinha um discurso fulminante e uma ferramenta fundamental, a língua guarani, com a que chegava ao coração de seu povo. Foi assassinado porque suas palavras pregavam rebeldia e ousadia que molestavam aos senhores da terra; os coronéis, os fazendeiros, militares, políticos e traficantes de influencia, ao governo de turno e às instituições da época. Com gestos e palavras eloqüentes as palavras de Marçãl denunciavam e acusavam esquematicamente estes setores como responsáveis do genocídio cometido contra os povos indígenas de Mato Grosso do Sul e do Brasil.

Sua voz foi calada o 25 de novembro de 1983, mais o eco de sua consciência retumbam ate hoje. Para lembrar seu gesto e coragem os indígenas Kaiowa e Ñandeva rezaram no lugar onde ele foi assassinado, 25 anos atrás. Foi durante o Aty Guasu (reunião grande) que se realizau na Aldeia Campestre-Ñanderu Marangatu, no município de Antonio João/MS na divisa com Paraguai, o 29 de novembro de 2008. Este encontro do povo guarani aconteceu num momento de grande significação que tem tudo a ver com a mística de Marçal de Souza e a heróica resistência de tantos outros lutadores guarani que morreram defendendo sua terra invadida e sua cultura ameaçada e dizimada.

Para lembrar estes 25 anos em que a sangue do líder regou a terra guarani, resgatamos testemunhas na aldeia em que Marçal foi assassinado e onde a impunidade ficou perene como um monumento da corrupção que o Estado de Mato Grosso do Sul mantém como um carimbo vergonhoso, e que é aplicado, especialmente, sem pudor, contra as populações indígenas.

Amilton Lopes, líder de Ñanderu Marangatu, é um dos principais continuadores dos ensino de Marçal de Souza (Tupã'i). Ele diz que embora não conheceu a Tupa'i, tomou conta dos escritos deixados por ele, dos discursos que pronunciou. “A luta de Marçãl não foi em vão; às conquistas que vieram depois testemunham que a semente que ele deixou deu frutos. A coordenação dos Aty Guasu foi uma inspiração dele, os Jeroky Guasu Guarani (Grandes Festas Guarani), que fazem parte de nossa cultura voltaram a renascer e a recuperação de uma parte de nossas terras se faz realidade, embora estejamos hoje muito longe da verdadeira justiça para nosso povo”, assinala Amilton Lopes. Indica também que aprendeu que Marçal falava de coração e assim deixou várias frases marcantes que mostram o caminho para continuar a luta, entre elas lembra à seguinte: “Um dia vamos a escrever a luta com nossa sangue”. E, Amilton reflete sobre a frase, e completa: “Se hoje o governo não toma providencia e coragem para terminar as demarcações de terra, no futuro isso é o que vai acontecer”.

Otoniel Ricardo, professor da comunidade Te'ýikue, município de Karapó, recentemente eleito vereador dize que “para a luta de hoje a memória de Marçal tem um grande significado porque ele ensinou que temos três coisas muito importantes para nos ter em conta e não esquecer: palavra, terra e teko (jeito de ser indígena)”. O professor afirma que Marçal era um ser muito espiritual e de grande humildade. Seu pensamento sobre a unidade, o trabalho coletivo e a defesa da política indígena, como fatores fundamentais para quem quer continuar a luta hoje, foi colocado por Otoniel como ensinos que precisam ser resgatados pelas lideranças indígenas atuais.

“Guerreiro do movimento guarani”
Para Egon Heck, coordenador do Conselho Indigenista Missionário (CIMI/MS), Marçal não é apenas um marco na luta recente do povo guarani, mas do movimento indígena nacional e internacional. “Como Sepé Tiaraju ele ficou como marco heróico da resistência guarani; seu testemunho o tornará sempre vivo e animador das lutas e vida e futuro de seu povo”, expressou Heck. Resgata também a “perspicácia e oratória sabia e versátil” que teve Marçal de Souza, sobressaindo desde o momento que o líder indígena decide entrar na luta junto a seu povo. “Embora, o mais admirável foi sua coerência e testemunha; ele não se afastou de seu povo; ainda sendo eleito vice presidente da União das Nações Indígenas (UNI), permaneceu prestando serviço de saúde na pequena comunidade de Campestre e teve participação efetiva na primeira retomada em 1983”, assinalou também o missionário do CIMI.

A filha de Marçal
Edna de Souza, filha de Marçal de Souza, presente também no encontro de comemoração do 25 anos do assassinato de seu pai, dize que para as comunidades é ponto de referencia a figura do líder indígena. “Sendo ele muito místico é forte a crença de que o espírito dele está nas lutas das comunidades, pelas demarcações de terra e nas festas tradicionais dos Kaiowa-Guarani, até porque ele pregava com força a luta pela terra e a defesa da cultura e ação política tradicional indígena”, manifestou Edna. Falou também que “os atos de coragem que ele teve de ir para a luta, de desafiar às autoridades e aos fazendeiros fortalece a luta dos Kaiowa-Guarani, porque eles, espelhando-se nesses atos acreditam na recuperação de suas terra e assim vão também para as retomadas”, afirmou a filha de Tupã´i.

Lindomar Ferreira, liderança do povo Terena também deu sua impressão sobre a figura de Marçal. “Sabemos que essa liderança guarani é respeitada por todos os povos indígenas do Brasil, pois foi um dos pioneiro na luta pela retomada das terras indígenas, acho que todos estamos chamados a conhecer a historia de Marçal de Souza e imitar seu exemplo”, expressou o líder Terena.

Resta dizer, confirmar e testemunhar, que depois de 25 anos do assassinato do grande líder guarani, Marçal de Souza, vive!!! Viva a luta indígena e popular no Brasil e em America Latina. (Fonte: Cimi MS)

http://www.cimi.org.br/?system=news&action=read&id=3545&eid=352

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