quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Angola/UMA OPORTUNIDADE HISTÓRICA

6 dezembro 2015, Jornal de Angola http://jornaldeangola.sapo.ao(Angola)

 

Filomeno Manaças

A Cimeira de Joanesburgo entre a China e a África já entrou na História. O alcance e a dimensão da parceria estratégica estabelecida entre a China e África pode não ser avaliada devidamente já agora, mas, como tudo, o tempo vai encarregar-se de revelar que o encontro de Joanesburgo, que ontem terminou, foi tão somente o primeiro de um grande passo no sentido de vários países africanos relançarem as suas economias e darem um salto em termos de modernização das suas infra-estruturas.

Com efeito, num ambiente de crise económica e financeira mundial, que obrigou muitos países a encolherem os seus orçamentos, mesmo ao nível de economias mais desenvolvidas e, portanto, mais desafogadas e com maior margem de manobra, o anúncio feito pelo Presidente Xi Jinping de que a China põe à disposição de África 60 mil milhões de dólares para projectos de desenvolvimento, foi o sopro de que se estava à espera e que, em boa verdade, revelou ser uma grande surpresa porque, tendo em conta os montantes, superou as expectativas.

Se recuarmos no tempo e tentarmos encontrar um termo de comparação, podemos pegar no Plano Marshall que os Estados Unidos elaboraram para reerguer dos escombros a Europa Ocidental, depois da II Guerra Mundial, e que
em contas redondas se cifrou em 13 mil milhões de dólares. Ainda que alguns economistas defendam que esses 13 mil milhões de dólares hoje valeriam 132 mil milhões, tendo em conta factores indutores de inflação, o certo é que nos dias de hoje são poucas as economias ou países que, nas condições em que a China o faz, disponibilizam essa quantia a título de empréstimo para projectos de desenvolvimento.

Mas as boas novas não se ficaram pelos 60 mil milhões de dólares. O perdão parcial da dívida e a abertura para a formação de pelo menos 30 mil quadros africanos fizeram parte do pacote de novidades que Xi Jinping levou à Cimeira de Joanesburgo, num encontro que reuniu o Presidente chinês e mais de quatro dezenas de Chefes de Estado e de Governo africanos na capital económica sul-africana.

O pragmatismo e a visão estratégica com que a China encara a cooperação com África são elementos que podem garantir à economia chinesa um forte mercado para a expansão das suas exportações, por um lado, e, por outro, vão permitir promover transformações estruturais positivas nos países africanos. Depois de 30 anos de reformas económicas que permitiram à economia chinesa ser hoje a segunda maior do mundo, Pequim tem necessidade de fomentar o consumo interno, mas também de expansão dos mercados.

Salvo raras excepções, África é ainda um continente virgem em matéria de industrialização e de processos de produção tecnologicamente avançados. Carece, em muitos casos, de, nesse campo, dar o primeiro passo, não sendo mesmo possível, por isso, saltar etapas.

É o que o Presidente Robert Mugabe, do Zimbabwe, fez questão também de sublinhar, quando enalteceu a disposição da China em abraçar, juntamente com África, um desafio hercúleo: o de ajudar o continente berço a recuperar de um atraso imposto.

Robert Mugabe disse uma verdade que pode ser incómoda para muitos países, mas que é a realidade nua e crua e descreve bem o nível em que ainda se encontram as relações entre ex-colónias e as antigas potências colonizadoras.

“A China é uma potência mundial que nunca teve colónias em África, mas faz o que não fazem outras potências, incluindo aquelas com histórico de colonização e exploração do continente berço”, disse o sempre incisivo Robert Mugabe.

Aos países africanos, resta agora tirar o maior proveito possível das oportunidades que a China oferece, não hesitando diante das campanhas contra essa cooperação, que certamente vão surgir, às quais, se quiserem ter sucesso, só deverão contrapor firmeza e afirmação soberana das decisões que forem tomadas.

É curioso que muitas dessas campanhas têm origem em países que consomem muitos dos produtos que têm o rótulo “made in China”. A China é hoje um dos principais fornecedores mundiais de produtos e serviços para os Estados Unidos e para a União Europeia. Muitas das empresas norte-americanas e da União Europeia possuem fábricas em território chinês. A deslocalização de fábricas nos EUA e na Europa permitiu à economia chinesa ter o desenvolvimento que hoje a eleva como a segunda maior do mundo.

África tem hoje, na cooperação com a China, uma oportunidade histórica para dar um salto de gigante e deixar para trás a situação de atraso e de subdesenvolvimento económico em que vive.

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