quarta-feira, 18 de junho de 2014

Brasil/AMOR, ÓDIO, ESPERANÇA E RADICALIDADE NA LUTA POLÍTICA-ELEITORAL

18 junho 2014, Vermelho EDITORIAL http://vermelho.org.br (Brasil)

(Foto: Arquivo Mercosul & CPLP)

A campanha eleitoral propriamente dita ainda nem começou, mas o enfrentamento entre as principais candidaturas é cada vez mais duro e radicalizado. A oposição neoliberal e conservadora, encabeçada pelo candidato Aécio Neves, da coalizão PSDB-DEM-Solidariedade, expressão partidária da nova direita nacional, optou por duros ataques ao governo e à pessoa da presidenta da República, num discurso em que se misturam falsas denúncias e insultos, uma mixórdia de preconceito e ódio. 

A fórmula adotada pelo consórcio oposicionista neoliberal e conservador tem dois sentidos muito precisos. 

Em primeiro lugar, os inimigos da democracia, da soberania nacional e do progresso social querem macular a imagem da mandatária, caracterizá-la negativamente, desfazer a confiança do povo em uma governante que se destaca como estadista, boa gestora, moralmente inatacável – pela honestidade com que conduz a administração pública – e líder política para quem acima de tudo estão a democracia, a soberania nacional, o desenvolvimento, o bem-estar e as aspirações do povo brasileiro. 

Em segundo lugar, o consórcio oposicionista atua para criar um cenário de instabilidade, caos, ingovernabilidade e quebra de princípios democráticos básicos no desenvolvimento da luta política e social. Para isto, fabricam-se manifestações minoritárias em que o insulto e a incitação à violência se tornam a norma, numa demonstração de que
a direção tucana aposta num cenário de desestabilização política do país para o caso de uma provável derrota dos seus planos eleitorais.

Observe-se que a estratégia do insulto e do ódio não começou com a manifestação cretina e mal educada minutos antes da partida inaugural da Copa do Mundo. Mês e meio antes, numa das festas de comemoração do 1º de Maio organizada por uma das centrais sindicais, um deputado e sindicalista que sempre esteve de braços dados com o patronato e os executivos das multinacionais, antigo aliado dos neoliberais, comandou um coro ofensivo e lançou gestos obscenos contra a mandatária. 

Mais do que o esboroamento do mito da cordialidade nas relações sociais como elemento constitutivo do caráter nacional, a estratégia dos neoliberais e conservadores encastelados na campanha aecista revela o nascimento de uma vertente para o fascismo, a semeadura da radicalização política, a preparação da violência como método para regressar ao poder. É o que corresponde à visão de mundo da classe social que esta candidatura representa, herdeira de escravocratas, que vê com indisfarçáveis inconformismo e intolerância a emergência do protagonismo do povo humilde e dos trabalhadores, traduzida numa ainda tímida, incipiente, frágil mas real ascensão social e obtenção de níveis mínimos de bem-estar.

Assim, tudo está a indicar não só que teremos uma campanha eleitoral radicalizada, como esta radicalidade não se esgotará em outubro vindouro, pois expressa objetivamente a polarização social e política em curso no Brasil desde a abertura do novo ciclo a partir da primeira eleição de Lula, em 2002.

Se concretizada, a reeleição da presidenta Dilma Rousseff seria a quarta vitória do povo brasileiro. São significativas as conquistas acumuladas, é real a possibilidade de promover mudanças estruturais no país, como de reforçar o processo independentista, integrador e democrático-popular, de sentido anti-imperialista, em curso na América Latina, que se vai transformando num importante polo no cenário geopolítico atual. A direita conservadora e neoliberal e seus aliados internacionais têm este cenário em conta e visam, com as movimentações políticas que empreendem, a interrompê-lo, truncá-lo, revertê-lo, em nome dos seus interesses de classe e antinacionais. Como temos assinalado, o que está em disputa na atual contenda eleitoral é se o Brasil continuará a realizar as mudanças que correspondem aos anseios nacionais e populares, ou se retrocederá às políticas que convêm à oligarquia financeira e às potências internacionais. 

A expressão “Lulinha paz e amor”, marca de campanhas eleitorais passadas, era uma formulação do chamado marketing político, cada vez mais influente em disputas políticas mediatizadas e espetacularizadas, em que a publicidade e a habilidade para usar a televisão têm peso decisivo. Supor, porém, que são tiradas deste tipo que definem o resultado da luta política, seria no mínimo ingenuidade. A alternância entre boutades, afirmações incisivas e palavras agressivas é sempre a expressão da temperatura política, do nível da batalha, fórmulas que falam das convicções dos contendores e do humor do eleitorado. O Brasil é um país com lancinantes contradições sociais, que inevitavelmente se expressam com radicalidade na vida política, sobretudo quando está em jogo o vértice do poder nacional – a Presidência da República.

Sem resvalar para a provocação e as baixarias do consórcio oposicionista e seu candidato Aécio Neves, as forças progressistas vão à luta com um discurso mobilizador, capaz de infundir esperança, descortinar perspectivas e desencadear as energias latentes do povo brasileiro, a fim de seguir na caminhada para realizar transformações políticas e sociais avançadas e mudar a realidade e a face do país.

------------------ Sobre o mesmo assunto


QUEM ENVERGONHOU O BRASIL AQUI E LÁ FORA?

17/06/2014, Leonardo Boff http://leonardoboff.wordpress.com (Brasil)

Pertence à cultura popular do futebol a vaia a certos jogadores, a juízes e eventualmente a alguma autoridade presente. Insultos e xingamentos com linguagem de baixo calão que sequer crianças podem ouvir é coisa inaudita no futebol do Brasil. Foram dirigidos à mais alta autoridade do pais, à Presidenta Dilma Rousseff, retraída nos fundos da arquibancada oficial.

Esses insultos vergonhosos só podiam vir de um tipo de gente que ainda têm visibilidade do pais, “gente branquíssima e de classe A, com falta de educação e sexista’ como comentou a socióloga do Centro Feminista de Estudos, Ana Thurler.

Quem conhece um pouco a história do Brasil ou quem leu Gilberto Freyre, José Honório Rodrigues ou Sérgio Buarque de Hollanda sabe logo identificar tais grupos. São setores de nossa elite, dos mais conservadores do mundo e retardatários no processo civilizatório mundial, como costumava enfatizar Darcy Ribeiro, setores que por 500 anos ocuparam o espaço do Estado e dele se beneficiaram a mais não poder, negando direitos cidadãos para garantir privilégios corporativos. Estes grupos não conseguiram ainda se livrar da Casa Grande que a tem entrenhada na cabeça e nunca esqueceram o pelourinho onde eram flagelados escravos negros. Não apenas a boca é suja; esta é suja porque sua mente é suja. São velhistas e pensam ainda dentro dos velhos paradigmas do passado quando viviam no luxo e no consumo conspícuo como no tempo dos príncipes renascentistas.

Na linguagem dura de nosso maior historiador mulato Capistrano de Abreu, grande parte da elite sempre “capou e recapou, sangrou e ressangrou” o povo brasileiro. E continua fazendo. Sem qualquer senso de limite e por isso, arrogante, pensa que pode dizer os palavrões que quiser e desrespeitar qualquer autoridade.

O que ocorreu revelou aos demais brasileiros e ao mundo que tipo de tipo de lideranças temos ainda no Brasil. Envergonharam-nos aqui e lá fora. Ignorante, sem educação e descarado não é o povo, como costumam pensar e dizer. Descarado, sem educação e ignorante é o grupo que pensa e diz isso do povo. São setores em sua grande maioria rentistas que vivem da especulação financeira e que mantém milhões e milhões de dólares fora do país, em bancos estrangeiros ou em paraísos fiscais.

Bem disse a Presidenta Dilma: “o povo não reage assim; é civilizado e extremamente generoso e educado”. Ele pode vaiar e muito. Mas não insulta com linguagem xula e machista a uma mulher, exatamente aquela que ocupa a mais alta representação do país. Com serenidade e senso de soberania pessoal deu a estes incivilizados uma respota de cunho pessoal:”Suportei agressões físicas quase insuportáveis e nada me tirou do rumo”. Referia-se às suas torturas sofridas dos agentes do Estado de terror que se havia instalado no Brasil a partir de 1968. O pronunciamento que fez posteriormente na TV mostrou que nada a tira do rumo nem a abala porque vive de outros valores e pretende estar à altura da grandeza de nosso país.

Esse fato vergonhoso recebeu a repulsa da maioria dos analistas e dos que sairam a público para se manfiestar. Lamentável, entretanto, foi a reação dos dois candidatos a substitui-la no cargo de Presidente. Praticamente usaram as mesmas expressões, na linha dos grupos embrutecidos: ”Ela colhe o que plantou”. Ou o outro deu a entender que fez por merecer os insultos que recebeu. Só espíritos tacanhos e faltos de senso de dignidade podiam reagir desta forma. E estes se apresentam como aqueles que querem definir os destinos do país. E logo com este espírito! Estamos fartos de lideranças medíocres que quais galinhas continuam ciscando o chão, incapazes de erguer o voo alto das águias que merecemos e que tenham a grandeza proporcional ao tamanho de nosso país.

Um amigo de Munique que sabe bem o portugues, perplexo com os insultos comentou:”nem no tempo do nazismo se insultavam desta forma as autoridades”. É que ele talvez não sabe de que pré-história nós viemos e que tipo de setores elitistas ainda dominam e que de forma prepotente se mostram e se fazem ouvir. São eles os principais agentes que nos mantém no subdesenvolvimento social, cultural e ético. Fazem-nos passar uma vergonha que, realmente, não merecemos.

*Leonardo Boff professor emérito de Etica e escritor

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