segunda-feira, 15 de abril de 2013

Portugal/O ESTADO DE GUERRA E A QUINTA COLUNA



15 abril 2013, Jornal I http://www.ionline.pt (Portugal)

Por Ana Sá Lopes

Existe em Portugal uma quinta coluna: o seu líder chama-se Vítor Gaspar

A decisão de Antonis Samaras, primeiro-ministro grego, de encomendar um relatório oficial sobre as dívidas que a Alemanha nunca pagou à Grécia em reparações da Segunda Guerra Mundial, caiu como uma bomba. Samaras fez uma coisa muito simples: recordou a História para os devidos efeitos e vai apelar aos tribunais internacionais - uma decisão inédita numa Europa que, como escreveu Tony Judt, adoptou como política comum o “esquecimento” que, em boa parte, era a única forma de continuar a viver depois de Auschwitz. Para a institucionalização desse “esquecimento” criaram-se os embriões da União Europeia, muito pouco tempo depois do fim da guerra - a comunidade do carvão e do aço e o resto que se lhe seguiu.

Menos de 70 anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial, a Europa voltou ao estado de guerra - produzida através de uma nova arma que foi expressamente criada para coroar o sucesso do “esquecimento” (os líderes europeus aceitaram, desde logo, subordinar-se a um banco, o BCE, feito à imagem e semelhança do Bundesbank, o banco central alemão e de uma moeda muito próxima do marco alemão).

Este estado de guerra está a dizimar as populações do Sul - a taxa de desemprego em Portugal é histórica e na Grécia ainda vai chegar aos 30% - e essa guerra está a ser vencida pelo Norte, com a cumplicidade de uma “quinta coluna” robusta em países como Portugal. Aqui, Vítor Gaspar é o líder dessa quinta coluna incapaz de colocar os interesses nacionais - não implodir o país através do aumento do desemprego, por exemplo - à frente dos interesses dominantes na troika e no Norte. Essa quinta coluna não só partilha a teologia da austeridade com mais fanatismo do que os seus Papas como tem uma ideologia de classe evidente - enquanto o accionista Estado se abstém na atribuição dos prémios milionários aos gestores da EDP, prepara-se para cortar nos mais fracos, os doentes e os de-sempregados.

Há uma destruição de Portugal em curso - provocada por um governo obediente, venerador e obrigado a políticas europeias devastadoras, mas dificilmente reversíveis. Acreditar numa mudança radical na Europa - onde Hollande se passeia a fazer figuras tristes - já começa a ser equivalente a acreditar nos amanhãs que cantam. A crise do euro é hoje mais profunda do que era há dois anos e não existem (os eleitorados respectivos não as aceitam) armas federais para lhe pôr cobro. Aceitar ficar no euro nestas condições, começa a ser um atentado de lesa-pátria.

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