sexta-feira, 8 de abril de 2011

Brasil/Vitória do governo na batalha da Vale, que já tem novo presidente


5 abril 2011/Vermelho
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Prevaleceu a vontade do governo Dilma na batalha pela presidência da Vale. Por decisão dos acionistas, consagrada em reunião realizada na noite de segunda-feira (4), o cargo será ocupado pelo executivo Murilo Pinto de Oliveira Ferreira, que já trabalhou na empresa.

O desfecho irritou profundamente as viúvas do neoliberalismo tucano, que chegaram a classificar o fato de uma reestatização branca. O atual diretor-presidente, Roger Agnelli, que parece cultivar a fama de arrogante e autoritário, esperneou e prometeu mobilizar a diretoria executiva e funcionários da Vale em defesa da sua perpetuação no cargo, mas acabou isolado.

A decisão dos acionistas deve ser referendada pelo conselho administrativo da empresa. Ferreira assume em 22 de maio, quando expira o mandato de Agnelli.

Ofensiva midiática
A briga pela sucessão transformou-se numa novela de poucos capítulos, narrada com paixão e sensacionalismo privatista pela mídia hegemônica, não só no Brasil como nos Estados Unidos e na Europa, onde jornais influentes, porta-vozes do capitalismo financeiro, destilaram comentários venenosos contra o governo Dilma.

“A expulsão do presidente da Vale [...] é um sinal terrível aos mercados sobre as intenções do governo brasileiro”, afirmou o New York Times, em reportagem publicada domingo (3).

Emprego versus lucro
De acordo com o diário estadunidense, os investidores foram forçados a abraçar uma estratégia que favorece em primeiro lugar os empregos e, depois disso, o lucro. “[A presidente Dilma Rousseff] está simplesmente dando continuidade a uma missão, iniciada por Lula, de usar a Vale e outras empresas brasileiras, como a Petrobras, como instrumentos de política social”, afirma.

Na segunda-feira (8) o britânico Financial Times critica a troca de comando na Vale destacando: “Investidores privados têm ações da Vale porque ela é a maior produtora de minério de ferro do mundo, não porque ela é uma ferramenta de política sócio-econômica do governo”.

Campanha reacionária
No Brasil, a mídia capitalista ecoou em uníssono a discordância com a decisão do governo, aproveitando a ocasião para desancar o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que teria articulado a substituição do atual diretor presidente. Parlamentares do PSDB, como o senador Aécio Neves, e do DEM também foram mobilizados e nos bastidores, a campanha orquestrada contra Mantega contou com a contribuição do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, conforme denuncia a revista CartaCapital (27-3-2011.

A onda reacionária que se formou contra a mudança na Vale reflete a ideologia privatista que orienta as ações da direita neoliberal e sua capciosa mídia. Não é demais lembrar que tal ideologia e os interesses que representa foram rechaçados pelo povo brasileiro nas três últimas eleições presidenciais realizadas no Brasil (2002, 2006 e 2010).

Multinacional brasileira
Privatizada na bacia das almas por US$ 3 bilhões durante o governo entreguista de FHC, a Vale obteve um lucro de US$ 30 bilhões no ano passado. A empresa cresceu consideravelmente ao longo dos últimos anos, beneficiada pela elevação dos preços das commodities, alavancados pela demanda chinesa, e se transformou numa grande multinacional brasileira.

O governo, neste caso, é acusado de ingerência indevida e inaceitável em negócios privados, numa ofensa aos princípios sagrados da iniciativa privada. O argumento neoliberal não procede, pois o Estado controla parte apreciável das ações com direito a voto. BNDES e fundos de pensão dos trabalhadores, que se aliaram ao governo no conflito, possuem 61% das ações e contaram com o apoio de outros acionistas para defenestrar Agnelli.

Tucanagem
A reação da mídia mostra que o executivo demitido é homem de confiança dos acionistas estrangeiros, dos tucanos e da grande mídia, mas os seus objetivos e métodos na direção da empresa não condizem necessariamente com os interesses nacionais.

As divergências entre ele e o governo transpareceram em diferentes episódios, inclusive quando os impactos da crise exportada pelo capitalismo estadunidense foram sentidos com mais força no Brasil, no segundo semestre de 2008.

Arrogância
A primeira reação do executivo, à época, foi demitir, numa só tacada, 1200 trabalhadores. O fato despertou protestos no governo Lula, mas Agnelli fez ouvidos moucos à reclamação do presidente. Arrogante, ele também não topou mudar a estratégia de investimentos da empresa e seguir as sugestões de autoridades econômicas no sentido de implementar atividades produtivas que viabilizem uma maior agregação de valor ao minério de ferro, em vez de simplesmente extraí-lo e exportá-lo em forma bruta para a China e outros países.

Neste sentido, o BNDES, quando era dirigido por Carlos Lessa, chegou a propor a Agnelli um plano para que a Vale ajudasse a siderurgia brasileira a saltar de uma produção anual de 30 milhões de toneladas para 100 milhões até 2015. Tal projeto contemplaria a fusão de Usiminas, Açominas, CSN, Cosipa e CST.

Interesses nacionais
Tal orientação, à qual o atual presidente da empresa se opôs, está mais afinada com os interesses nacionais e um novo projeto de desenvolvimento contrário ao ideário neoliberal. Depois de privatizada, a Vale também correu o risco de desnacionalização, afastado pela intervenção do BNDES.

Ao contrário do que propõe a mídia alienígena, a mineradora não deve buscar exclusivamente o lucro e dividendos para distribuir aos acionistas. Precisa priorizar o emprego, as políticas sociais e uma nova estratégia de desenvolvimento nacional, que compreende o projeto de reduzir a dependência da exportação de commodities e agregar maior valor às cadeias produtivas, o que no caso significa destinar parte expressiva dos investimentos à siderurgia em vez de continuar restrita à extração de minério de ferro.

O episódio mostra que os interesses privados nem sempre estão de acordo com os interesses maiores da sociedade, quase sempre ocorre o contrário. É indispensável a intervenção e o fortalecimento do Estado na economia e é isto que possibilitou a retomada do crescimento da economia e recolocou no horizonte a necessidade de transitar para um novo projeto nacional de desenvolvimento, com soberania e valorização do trabalho. (Da Redação, Umberto Martins, com agências)


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