quarta-feira, 30 de julho de 2014

O RETORNO DE ORWELL: A GUERRA CONTRA A PALESTINA, A UCRÂNIA E A VERDADE/THE RETURN OF GEORGE ORWELL AND BIG BROTHER’S WAR ON PALESTINE, UKRAINE AND THE TRUTH

29 julho 2014, Resistir.info http://www.resistir.info (Portugal)
11 July 2014, John Pilger.com http://johnpilger.com (UK)

por John Pilger

Na noite passada assisti à peça "1984", de George Orwell, encenada num teatro de Londres. Embora clamasse por uma interpretação contemporânea, a advertência de Orwell acerca do futuro foi apresentada como uma peça datada: remota, não ameaçadora, quase reconfortante. Era como se Edward Snowden nada houvesse revelado, como se o Big Brother não fosse agora um espião digital e como se o próprio Orwell nunca houvesse dito: "Para ser corrompido pelo totalitarismo, basta ter de viver num país totalitário". 

Aplaudida pelos críticos, a produção cuidadosa foi uma medida dos nossos tempos culturais e políticos. Quando a luzes acenderam, as pessoas já estavam a sair. Pareciam impassíveis, ou talvez outras distracções as chamassem. "Que
 mindfuck ", disse uma jovem, a ligar seu telemóvel. 

Quando sociedades avançadas são despolitizadas, as mudanças são tanto subtis como espectaculares. No discurso diário, a linguagem política é
activida na sua cabeça, tal como Orwell profetizou em "1984". "Democracia" é agora um dispositivo retórico. Paz é "guerra perpétua". "Global" é imperial. O outrora esperançoso conceito de "reforma" agora significa regressão, mesmo destruição. "Austeridade" é a imposição do capitalismo extremo sobre os pobres e a prenda do socialismo para os ricos: um sistema engenhoso sob o qual a maioria serve as dívidas dos poucos. 

Nas artes, a hostilidade a dizer a verdade é um artigo de fé burguês. "O período vermelho de Picasso", diz uma manchete do
 Observer, "e porque política não faz boa arte". Considere isto num jornal que promoveu o banho de sangue no Iraque como uma cruzada liberal. A oposição de Picasso ao fascismo é uma nota de rodapé, assim como o radicalismo de Orwell desvaneceu-se do prémio que se apropriou do seu nome. 

Há alguns anos, Terry Eagleton, então professor de literatura inglesa na Universidade de Manchester, calculou que "pela primeira vez em dois séculos, não há qualquer poeta eminente, dramaturgo ou romancista britânico preparado para questionar os fundamentos do modo de vida ocidental". Nenhum Shelley que fale pelos pobres, nenhum Blake para sonhos utópicos, nenhum Byron a amaldiçoar a corrupção da classe dominante, nenhum Thomas Carlyle e John Ruskin a revelarem o desastre moral do capitalismo. William Morris, Oscar Wilde, HG Wells, George Bernard Shaw não têm hoje equivalentes. Harold Pinter foi o último a levantar sua voz. Dentre as vozes insistentes do feminismo consumidor, nenhuma ecoa Virginia Woolf, que descreveu "as artes de dominar outras pessoas... de governar, de matar, de adquirir terra e capital".
 

No National Theatre, uma nova peça, "Great Britain", satiriza o escândalo das escutas telefónicas que viu jornalistas julgados e condenados, incluindo um ex-editor do
 New of the World, de Rupert Murdoch. Descrito como uma "farsa com dentes caninos [que] coloca toda a cultura incestuosa [dos media] em causa e sujeita-os a um ridículo impiedoso", os alvos da peça são as personalidades "abençoadamente divertidas" da imprensa tablóide britânica. Isso está muito bem e soa familiar. Mas o que dizer dos media não tablóides que se consideram sérios e críveis, mas exerce um serviço paralelo como braço do estado e do poder corporativo, como na promoção de guerras ilegais? 

O inquérito Leveson sobre escutas telefónicas considerou isto como não mencionável. Tony Blair estava a depor, queixando-se a Sua Senhoria acerca do assédio dos tablóides a sua esposa, quando foi interrompido por uma voz da galeria do público. David Lawley-Wakelin, um realizador de filmes, exigiu a prisão de Blair e que fosse processado por crimes de guerra. Houve uma longa pausa: o choque da verdade. Lord Leveson saltou sobre os seus pés e ordenou a expulsão do que dizia a verdade e desculpou-se junto ao criminoso de guerra. Lawley-Wakelin foi processado, Blair ficou livre.
 

Os cúmplices permanentes de Blair são mais respeitáveis do que os hackers das escutas. Quando a apresentadora de artes da BBC, Kirsty Wark, o entrevistou sobre o décimo aniversário da invasão do Iraque, ela prendou-o com um momento com que ele sonhava: permitiu-lhe atormentar-se sobre a sua "difícil" decisão sobre o Iraque ao invés de chamá-lo a prestar contas pelo seu crime gigantesco. Isto evocou o cortejo fúnebre de jornalistas da BBC o quais em 2003 declaravam que Blair podia sentir-se "justificado" e as subsequente séries "seminais" da BBC, "Os anos Blair", para a qual foi escolhido David Aaronovitch autor, apresentador e entrevistador. Um servidor de Murdoch que fez campanha a favor de ataques militares ao Iraque, à Líbia e à Síria, Aaranovitch bajulava com perícia.
 

Desde a invasão do Iraque – o exemplo de um acto de agressão não provocada que o promotor de Nuremberg, Robert Jackson, classificou como "o supremo crime internacional diferente dos outros crimes de guerra apenas por conter em si próprio mal acumulado do todo" – a Blair e seu porta-voz e cúmplice principal, Alastair Campbell, tem sido concedido um espaço generoso no
 Guardian para reabilitarem suas reputações. Descrito como a "estrela" do Partido Trabalhista, Campbell tem procurado a simpatia dos leitores pela sua depressão e manifestou seus interesses, embora sua tarefa actual não seja de conselheiro, com Blair, quanto à tirania militar egípcia. 

Quando o Iraque é desmembrado em consequência da invasão Blair/Bush, uma manchete doGuardian
 declara: "Derrubar Saddam estava certo, mas retirámo-nos demasiado cedo". Isto encontra-se num artigo destacado de 13 de Junho de um antigo funcionário de Blair, John McTernan, que também serviu o ditador instalado pela CIA no Iraque, Iyad Allawi. Ao apelar à repetição da invasão de um país que o seu antigo mestre ajudou a destruir, ele não faz qualquer referência às mortes de pelo menos 700 mil pessoas, a fuga de quatro milhões de refugiados e a tempestade sectária numa nação que outrora orgulhava-se da sua tolerância conjunta. 

"Blair corporifica a corrupção e a guerra", escreveu em 2 de Julho o radical colunista do
 Guardian,Seumas Milne, numa peça inspirada. Isto é o que se conhece no comércio como "equilíbrio". No dia seguinte o jornal publicou um anúncio de página interna de um bombardeiro furtivo americano. Sobre uma imagem ameaçadora do bombardeiro constavam as palavras: "O F-35. Bom para a Grã-Bretanha". Esta outra corporificação da "corrupção e da guerra" custará aos contribuintes britânicos £1,3 mil milhões [€1,64 mil milhões], tendo os seus antecessores modelo F massacrado povos por toda a parte no mundo em desenvolvimento. 

Numa aldeia do Afeganistão, habitada pelos mais pobres dos pobres, filmei Orifa, ajoelhada nos túmulos do seu marido, Gul Ahmed, um tecelão de tapetes, e de sete outros membros da sua família, incluindo seis crianças, e duas crianças que foram mortas na casa adjacente. Uma bomba de "precisão" com 500 libras [226,5 kg] caiu directamente sobre a sua pequena casa de barro, pedra e palha, deixando uma cratera com 50 pés [15,2 m] de largura. A Lockheed Martin, o fabricante do avião, tinha lugar de destaque no anúncio do
 Guardian. 

A antiga secretária de Estado e aspirante à presidência dos Estados Unidos, Hillary Clinton, foi recentemente à "Women's Hour" da BBC, a quinta-essência da respeitabilidade nos media. A apresentadora, Jenni Murray, considerou Clinton como um farol do êxito feminino. Ela não recordou aos seus ouvintes acerca da abominação de Clinton que invadiu o Afeganistão para "libertar" mulheres como Orifa. Ela nada perguntou a Clinton acerca da sua campanha de terror utilizando drones para matar mulheres, homens e crianças. Não houve menção à ameaça ociosa de Clinton, enquanto em campanha para ser a primeira mulher presidente, de "eliminar" o Irão. Tão pouco acerca do seu apoio à vigilância ilegal em massa e à perseguição de denunciantes.
 

Murray perguntou-lhe uma questão delicada. Clinton havia perdoado Monica Lewinsky por ter um caso com o seu marido? "Perdoar é uma opção", disse Clinto, "para mim, era absolutamente a opção certa". Isto rememorou a década de 1990 e os anos gastos com o "escândalo" Lewinsky. O presidente Bill Clinton estava então a invadir o Haiti e a bombardear os Balcãs, a África e o Iraque. Ele estava também a destruir vidas de crianças iraquianas; a UNICEF relatou a morte de meio milhão de crianças iraquianas com menos de cinco anos em consequência do embargo efectuados pelos EUA e a Grã-Bretanha.
 

As crianças foram ignoradas pelos media, assim como as vítimas de Hillary Clinton nas invasões que ela apoiou e promoveu – Afeganistão, Iraque, Iémen, Somália – são ignoradas pelos media. Murray não lhes fez referência. Uma fotografia dela e da sua distinta convidada, radiante, aparece no sítio web da BBC.
 

Na política, tal como no jornalismo e nas artes, parece que a discordância outrora tolerada nos media "de referência" regrediu para dissidência: uma clandestinidade metafórica. Quando comecei minha carreira na Fleet Street na Grã-Bretanha, na década de 1960, era aceitável criticar o poder ocidental como uma força predadora. Ler as celebradas reportagens de James Cameron sobre a bomba de hidrogénio no Atol de Bikini, a bárbara guerra na Coreia e o bombardeamento americano do Vietname do Norte. A grande ilusão de hoje é de uma era da informação quando, na verdade, vivemos numa era dos media na qual a propaganda corporativa incessante é insidiosa, contagiosa, eficaz e liberal.
 

No seu ensaio "On Liberty", de 1859, ao qual os liberais modernos prestam homenagem, John Stuart Mill escreveu: "Despotismo é um modo legítimo de governo ao tratar com bárbaros, desde que o objectivo seja o seu aperfeiçoamento e os meios justificados pelos que realmente actuam para aquele fim". Os "bárbaros" eram vastas parcelas da humanidade da qual era exigida "implícita obediência". "É um mito bonito e conveniente o de que os liberais são pacifistas e os conservadores belicosos", escreveu o historiador Hywel Williams em 2001, "mas o imperialismo pelo caminho liberal pode ser mais perigoso por causa da sua natureza ilimitada: sua convicção de que representa uma forma de vida superior". Ele tinha em mente um discurso de Blair no qual o então primeiro-ministro prometia "reordenar o mundo em torno de nós" de acordo com os seus "valores morais".
 

Richard Falk, respeitada autoridade sobre direito internacional e Relator Especial da ONU sobre a Palestina, certa vez descreveu "um quadro legal/moral farisaico, unilateral, com imagens positiva dos valores ocidentais e de inocência retratada como ameaçada, validando uma campanha de violência política irrestrita". Isto é "tão amplamente aceite ao ponto de ser virtualmente indiscutível".
 

Os guardiões são premiados com estabilidade e patrocínio. Na Radio 4 da BBC, Razia Iqbal entrevistou Toni Morrison, a afro-americana laureada com o Nobel. Morrison perguntou porque o povo estava "tão irado" com Barack Obama, que era "óptimo"
 ("cool") e desejava construir uma "economia forte e cuidados de saúde". Morrison estava orgulhosa por ter conversado ao telefone com o seu herói, o qual havia lido um dos seus livros e convidara-a para a sua posse. 

Nem ela nem sua entrevistadora mencionaram os sete anos de guerra de Obama, incluindo sua campanha de terror através de drones, na qual famílias inteiras, equipes de resgate e parentes enlutados foram assassinados. O que parecia importar era que um homem de cor que "falava com elegância" havia ascendido ao comando nas alturas do poder. Em "Os condenados da terra", Frantiz Fanon escreveu que a "missão histórica" do colonizado era servir como uma "linha de transmissão" àqueles que dominavam e oprimiam. Na era moderna, o emprego da diferença étnica nas potências ocidentais e seus sistema de propaganda é agora considerada como essencial. Obama sintetiza isto, embora o gabinete de George W. Bush – sua clique belicosa – fosse o mais multi rácico da história presidencial.
 

Quando a cidade iraquiana de Mossul caiu nas mãos dos jihadistas do ISIS, Obama disse: "O povo americano fez enormes investimentos e sacrifícios a fim de dar aos iraquianos a oportunidade de traçar um melhor destino". Quão "cool" é aquela mentira? Quão "elegante" foi o discurso de Obama na academia militar de West Point em 28 de Maio. Ao apresentar o seu discurso dos "estado do mundo" na cerimónia de graduação daqueles que "levarão a liderança americana" através do mundo, Obama disse: "Os Estados Unidos utilizarão força militar, unilateralmente se necessário, quando nossos interesses essenciais o exigirem. A opinião internacional importa, mas a América nunca pedirá permissão..."
 

Ao repudiar o direito internacional e os direitos de nações independentes, o presidente americano afirma uma divindade baseada no poder da sua "nação indispensável". É uma mensagem familiar de impunidade imperial, embora sempre reforçada a fim ser ouvida. Evocando a ascensão do fascismo na década de 1930, Obama disse: "Acredito no excepcionalismo americano com toda a fibra do meu ser". O historiador Norman Pollack escreveu: "Para os incondicionais
 (goose-steppers), substitui a aparentemente mais inócua militarização da cultura total. E para o líder bombástico, temos o reformador falhado, a trabalhar alegremente para planear e executar assassinatos, a sorrir o tempo todo". 

Em Fevereiro, os EUA montaram um dos seus golpes "coloridos" contra o governo eleito da Ucrânia, explorando protestos genuínos contra a corrupção em Kiev. A secretária de Estado assistente, Victoria Nuland, seleccionou pessoalmente o líder de um "governo interino". Ela alcunhou-o como "Yats". O vice-presidente Joe Biden veio a Kiev, tal como o director da CIA John Brennan. As tropas de choque do seu putsch foram fascistas ucranianas.
 

Pela primeira vez desde 1945 um partido neo-nazi, abertamente anti-semita, controla áreas chave do poder de estado numa capital europeia. Nenhum líder europeu ocidental condenou esta ressurreição do fascismo na fronteira através da qual invasores nazis ceifaram milhões de vidas russas. Eles foram apoiados pelo Ukrainian Insurgent Army (UPA), responsável pelo massacre de judeus e russos a quem chamam "insectos". O UPA é a inspiração histórica nos dias de hoje do Partido Svoboda e seus companheiros de viagem do Right Sector. O líder do Svoboda, Oleg Tyahnybok, conclamou a um expurgo da "mafia moscovita-judaica" e "outra escória", incluindo gays, feministas e aqueles na esquerda política.
 

Desde o colapso da União Soviética, os Estados Unidos têm cercado a Rússia com bases militares, aviões de guerra e mísseis nucleares, no âmbito do seu Projecto de Ampliação da NATO. Renegando uma promessa feita em 1990 ao presidente soviético Mikhail Gorbachev de que a NATO não se expandia "nem uma polegada para Leste", a NATO efectivamente ocupou militarmente a Europa do Leste. No antigo Cáucaso soviético, a expansão da NATO constitui a maior acumulação militar desde a Segunda Guerra Mundial.
 

Um Plano de Acção para a pertença à NATO é a prenda de Washington para o regime golpista de Kiev. Em Agosto, a "Operação Tridente Rápido" colocará tropas americanas e britânicas na fronteira russa da Ucrânia e a operação "Brisa Marítima" enviará navios de guerra estado-unidenses frente a portos russos. Imagine a resposta se estes actos de provocação, ou intimidação, fossem executados nas fronteiras da América.
 

Ao recuperar a Crimeia – a qual Nikita Kruschev ilegalmente destacara da Rússia em 1954 – os russos defenderam-se como haviam feito durante quase um século. Mais de 90 por cento da população da Crimeia votou pelo retorno do território à Rússia. A Crimeia é a base da Frota da Mar Negro e sua perda significaria a vida ou a morte da Armada Russa e um prémio para a NATO. Confundindo os partidos da guerra em Washington e Kiev, Vladimir Putin retirou tropas da fronteira ucraniana e instou russos étnicos no Leste da Ucrânia a abandonarem o separatismo.
 

Em modo orwelliano, isto foi invertido no Ocidente para a "ameaça russa". Hillary Clinton comparou Putin com Hitler. Sem ironia, comentadores alemães de direita disseram o mesmo. Nos media, os neo-nazis ucranianos são tornados aceitáveis como "nacionalistas" ou "ultra-nacionalistas". O que eles temem é que Putin está habilmente a procurar uma solução diplomática – e pode ter êxito. Em 17 de Junho, respondendo à mais recente proposta acomodatícia de Putin – seu pedido ao Parlamento russo para revogar legislação que lhe dava o poder para intervir em prol de russos étnicos na Ucrânia – o secretário de Estado John Kerry emitiu outro dos seus ultimatos. A Rússia deve "actuar dentro das próximas horas, literalmente" para acabar com a revolta no Leste da Ucrânia. Apesar de Kerry ser amplamente reconhecido como um bufão, o objectivo grave destas "advertências" é conferir o estatuto de pária à Rússia e suprimir notícias da guerra do regime de Kiev ao seu próprio povo.
 

Um terço da população da Ucrânia é de falantes do russo e bilingues. Eles têm desde há muito procurado uma federação democrática que reflicta a diversidade étnica da Ucrânia e seja autónoma e independente de Moscovo. A maior parte não é nem "separatista" nem "rebelde" mas cidadãos que querem viver com segurança na sua pátria. O separatismo é uma reacção aos ataques da junta de Kiev sobre eles, causando a fuga de 110 mil (estimativa da ONU) para a Rússia através da fronteira. Tipicamente, são mulheres e crianças traumatizadas.
 

Tal como as crianças do Iraque sob embargo e as mulheres e meninas do Afeganistão "libertado", aterrorizadas pelos senhores da guerra da CIA, este povo de etnia russa da Ucrânia é ignorado pelos media do ocidente, o seu sofrimento e as atrocidades contra ele cometidas são minimizadas ou silenciadas. Nenhum sentido da escala do assalto do regime é reflectido nos media de referência ocidentais. Isto não é sem precedentes. Relendo a obra magistral de Philip Knighteley, " The First Casualty: the war correspondent as hero, propagandist and mythmaker", reitero minha admiração pelo Morgan Philips Price do
 Manchester Guardian, o único repórter ocidental a permanecer na Rússia durante a revolução de 1917 e a relatar a verdade de uma invasão devastadora pelos aliados ocidentais. Sem preconceitos e corajoso, só Philips Price perturbou o que Knightley chamou de um "escuro silêncio" anti-russo no ocidente. 

No dia 2 de Maio, em Odessa, 41 russos étnicos foram queimados vivos na casa dos sindicatos com a polícia a assistir. Há horrendas provas em vídeo. O líder do Right Sector, Dmytro Yarosh, louvo o massacre como "mais um dia brilhante na nossa história nacional". Nos media americanos e britânicos, isto foi relatado como uma "tragédia obscura" resultante de "choques" entre "nacionalistas" (neo-nazis) e "separatistas" (pessoas a colherem assinatura para um referendo sobre uma Ucrânia federal). O
 New York Times enterrou o assunto, tendo descartado como propaganda russa advertências acerca das políticas fascista e anti-semita dos novos clientes de Washington. O Wall Street Journal amaldiçoou as vítimas – "Incêndio fatal na Ucrânia provavelmente ateado pelos rebeldes, diz o governo". Obama congratulou a junta pela sua "contenção". 

Em 28 de Junho, o
 Guardian dedicou quase toda uma página a declarações do "presidente" do regime de Kiev, o oligarca Petro Poroshenko. Mais uma vez, a regra da inversão de Orwell foi aplicada. Não houve putsch, nenhuma guerra contra a minoria da Ucrânia; os russos eram culpados por tudo. "Queremos modernizar meu país", disse Poroshenko. "Queremos introduzir liberdade, democracia e valores europeus. Alguém não gosta disso. Alguém não gosta de nós por isso". 

Nesta reportagem, o entrevistador do
 Guardian, Luke Harding, não desafiou estas afirmações, ou mencionou a atrocidade de Odessa, os ataques aéreos e de artilharia do regime contra áreas residenciais, a morte e sequestro de jornalistas, o ataque com bombas incendiárias a um jornal da oposição e a sua ameaça de "libertar a Ucrânia de excrementos e parasitas". O inimigo são "rebeldes, "militantes", "insurgentes", "terroristas" e sequazes do Kremlin. A actual campanha para culpar o governo russo pelo derrube do avião malaio faz parte desta propaganda. Na verdade, o crime do derrube daquele avião civil é um resultado directo do putsch de Obama na Ucrânia. Evoca da história os fantasmas do Vietname, Chile, Timor Leste, África do Sul, Iraque. Observa-se a reprodução das mesmas etiquetas, as mesmas falsas bandeiras. A Palestina é imã deste logro constante. A seguir à última carnificina de Israel em Gaza, com equipamento americano, de mais de 800 palestinos – incluindo 120 crianças – um general israelense escreve no Guardian: "Uma demonstração de força necessária". 

Na década de 1970 encontrei Leni Riefenstahl e perguntei-lhe acerca dos seus filmes que glorificavam os nazis. Utilizando técnicas de câmera e de iluminação revolucionárias, ela produziu uma forma documentário que hipnotizou os alemães. Foi o seu "O triunfo da vontade", que segundo se crê lançou o discurso de Hitler. Perguntei-lhe acerca da propaganda em sociedades que se imaginavam superiores. Ela respondeu que as "mensagens" nos seus filmes estavam dependentes não de "ordens de cima" mas de um "vazio submisso" na população alemã. "Isso incluía a burguesia liberal e educada?", perguntei-lhe. "Toda a gente", respondeu, "e naturalmente a intelligentsia".
 

O original encontra-se em
 johnpilger.com/... 


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THE RETURN OF GEORGE ORWELL AND BIG BROTHER’S WAR ON PALESTINE, UKRAINE AND THE TRUTH

11 July 2014, John Pilger.com http://johnpilger.com (UK)

The other night, I saw George Orwells's '1984' performed on the London stage. Although crying out for a contemporary interpretation, Orwell's warning about the future was presented as a period piece: remote, unthreatening, almost reassuring. It was as if Edward Snowden had revealed nothing, Big Brother was not now a digital eavesdropper and Orwell himself had never said, "To be corrupted by totalitarianism, one does not have to live in a totalitarian country."

Acclaimed by critics, the skilful production was a measure of our cultural and political times.
When the lights came up, people were already on their way out. They seemed unmoved, or perhaps other distractions beckoned. "What a mindfuck," said the young woman, lighting up her phone.

As advanced societies are de-politicised, the changes are both subtle and spectacular.
In everyday discourse, political language is turned on its head, as Orwell prophesised in '1984'. "Democracy" is now a rhetorical device. Peace is "perpetual war". "Global" is imperial. The once hopeful concept of "reform" now means regression, even destruction. "Austerity" is the imposition of extreme capitalism on the poor and the gift of socialism for the rich: an ingenious system under which the majority service the debts of the few.

In the arts, hostility to political truth-telling is an article of bourgeois faith.
"Picasso's red period," says an Observer headline, "and why politics don't make good art." Consider this in a newspaper that promoted the bloodbath in Iraq as a liberal crusade. Picasso's lifelong opposition to fascism is a footnote, just as Orwell's radicalism has faded from the prize that appropriated his name.

A few years ago, Terry Eagleton, then professor of English literature at Manchester University, reckoned that "for the first time in two centuries, there is no eminent British poet, playwright or novelist prepared to question the foundations of the western way of life".
No Shelley speaks for the poor, no Blake for utopian dreams, no Byron damns the corruption of the ruling class, no Thomas Carlyle and John Ruskin reveal the moral disaster of capitalism. William Morris, Oscar Wilde, HG Wells, George Bernard Shaw have no equivalents today. Harold Pinter was the last to raise his voice. Among the insistent voices of consumer-feminism, none echoes Virginia Woolf, who described "the arts of dominating other people... of ruling, of killing, of acquiring land and capital".

At the National Theatre, a new play, 'Great Britain', satirises the phone hacking scandal that has seen journalists tried and convicted, including a former editor of Rupert Murdoch's News of the World.
Described as a "farce with fangs [that] puts the whole incestuous [media] culture in the dock and subjects it to merciless ridicule", the play's targets are the "blessedly funny" characters in Britain's tabloid press. That is well and good, and so familiar. What of the non-tabloid media that regards itself as reputable and credible, yet serves a parallel role as an arm of state and corporate power, as in the promotion of illegal war?


The Leveson inquiry into phone hacking glimpsed this unmentionable. Tony Blair was giving evidence, complaining to His Lordship about the tabloids' harassment of his wife, when he was interrupted by a voice from the public gallery. David Lawley-Wakelin, a film-maker, demanded Blair's arrest and prosecution for war crimes. There was a long pause: the shock of truth. Lord Leveson leapt to his feet and ordered the truth-teller thrown out and apologised to the war criminal. Lawley-Wakelin was prosecuted; Blair went free.

Blair's enduring accomplices are more respectable than the phone hackers.
When the BBC arts presenter, Kirsty Wark, interviewed him on the tenth anniversary of his invasion of Iraq, she gifted him a moment he could only dream of; she allowed him to agonise over his "difficult" decision on Iraq rather than call him to account for his epic crime. This evoked the procession of BBC journalists who in 2003 declared that Blair could feel "vindicated", and the subsequent, "seminal" BBC series, 'The Blair Years', for which David Aaronovitch was chosen as the writer, presenter and interviewer. A Murdoch retainer who campaigned for military attacks on Iraq, Libya and Syria, Aaronovitch fawned expertly.

Since the invasion of Iraq - the exemplar of an act of unprovoked aggression the Nuremberg prosecutor Robert Jackson called "the supreme international crime differing only from other war crimes in that it contains within itself the accumulated evil of the whole" - Blair and his mouthpiece and principal accomplice, Alastair Campbell, have been afforded generous space in the Guardian to rehabilitate their reputations.
Described as a Labour Party "star", Campbell has sought the sympathy of readers for his depression and displayed his interests, though not his current assignment as advisor, with Blair, to the Egyptian military tyranny.  

As Iraq is dismembered as a consequence of the Blair/Bush invasion, a Guardian headline declares: "Toppling Saddam was right, but we pulled out too soon".
This ran across a prominent article on 13 June by a former Blair functionary, John McTernan, who also served Iraq's CIA installed dictator Iyad Allawi. In calling for a repeat invasion of a country his former master helped destroy, he made no reference to the deaths of at least 700,000 people, the flight of four million refugees and sectarian turmoil in a nation once proud of its communal tolerance.

"Blair embodies corruption and war," wrote the radical Guardian columnist Seumas Milne in a spirited piece on 3 July.
This is known in the trade as "balance". The following day, the paper published a full-page advertisement for an American Stealth bomber. On a menacing image of the bomber were the words: "The F-35. GREAT For Britain". This other embodiment of "corruption and war" will cost British taxpayers £1.3 billion, its F-model predecessors having slaughtered people across the developing world.

In a village in Afghanistan, inhabited by the poorest of the poor, I filmed Orifa, kneeling at the graves of her husband, Gul Ahmed, a carpet weaver, seven other members of her family, including six children, and two children who were killed in the adjacent house.
A "precision" 500-pound bomb fell directly on their small mud, stone and straw house, leaving a crater 50 feet wide. Lockheed Martin, the plane's manufacturer's, had pride of place in the Guardian's advertisement.

The former US secretary of state and aspiring president of the United States, Hillary Clinton, was recently on the BBC's 'Women's Hour', the quintessence of media respectability.
The presenter, Jenni Murray, presented Clinton as a beacon of female achievement. She did not remind her listeners about Clinton's profanity that Afghanistan was invaded to "liberate" women like Orifa. She asked  Clinton nothing about her administration's terror campaign using drones to kill women, men and children. There was no mention of Clinton's idle threat, while campaigning to be the first female president, to "eliminate" Iran, and nothing about her support for illegal mass surveillance and the pursuit of whistle-blowers.

Murray did ask one finger-to-the-lips question.
Had Clinton forgiven Monica Lewinsky for having an affair with husband? "Forgiveness is a choice," said Clinton, "for me, it was absolutely the right choice." This recalled the 1990s and the years consumed by the Lewinsky "scandal". President Bill Clinton was then invading Haiti, and bombing the Balkans, Africa and Iraq. He was also destroying the lives of Iraqi children; Unicef reported the deaths of half a million Iraqi infants under the age of five as a result of an embargo led by the US and Britain.

The children were media unpeople, just as Hillary Clinton's victims in the invasions she supported and promoted - Afghanistan, Iraq, Yemen, Somalia - are media unpeople.
Murray made no reference to them. A photograph of her and her distinguished guest, beaming, appears on the BBC website.

In politics as in journalism and the arts, it seems that dissent once tolerated in the "mainstream" has regressed to a dissidence: a metaphoric underground. When I began a career in Britain's Fleet Street in the 1960s, it was acceptable to critique western power as a rapacious force. Read James Cameron's celebrated reports of the explosion of the Hydrogen bomb at Bikini Atoll, the barbaric war in Korea and the American bombing of North Vietnam. Today's grand illusion is of an information age when, in truth, we live in a media age in which incessant corporate propaganda is insidious, contagious, effective and liberal.

In his 1859 essay 'On Liberty', to which modern liberals pay homage, John Stuart Mill wrote: "Despotism is a legitimate mode of government in dealing with barbarians, provided the end be their improvement, and the means justified by actually effecting that end." The "barbarians" were large sections of humanity of whom "implicit obedience" was required.
"It's a nice and convenient myth that liberals are peacemakers and conservatives the warmongers," wrote the historian Hywel Williams in 2001, "but the imperialism of the liberal way may be more dangerous because of its open-ended nature: its conviction that it represents a superior form of life." He had in mind a speech by Blair in which the then prime minister promised to "reorder the world around us" according to his "moral values".

Richard Falk, the respected authority on international law and the UN Special Rapporteur on Palestine, once described a "a self-righteous, one-way, legal/moral screen [with] positive images of western values and innocence portrayed as threatened, validating a campaign of unrestricted political violence".
It is "so widely accepted as to be virtually unchallengeable".

Tenure and patronage reward the guardians.
On BBC Radio 4, Razia Iqbal interviewed Toni Morrison, the African-American Nobel Laureate. Morrison wondered why people were "so angry" with Barack Obama, who was "cool" and wished to build a "strong economy and health care". Morrison was proud to have talked on the phone with her hero, who had read one of her books and invited her to his inauguration.

Neither she nor her interviewer mentioned Obama's seven wars, including his terror campaign by drone, in which whole families, their rescuers and mourners have been murdered.
What seemed to matter was that a "finely spoken" man of colour had risen to the commanding heights of power. In 'The Wretched of the Earth', Frantz Fanon wrote that the "historic mission" of the colonised was to serve as a "transmission line" to those who ruled and oppressed. In the modern era, the employment of ethnic difference in western power and propaganda systems is now seen as essential. Obama epitomises this, though the cabinet of George W. Bush - his warmongering clique - was the most multiracial in presidential history.

As the Iraqi city of Mosul fell to the jihadists of ISIS, Obama said, "The American people made huge investments and sacrifices in order to give Iraqis the opportunity to chart a better destiny."
How "cool" is that lie? How "finely spoken" was Obama's speech at the West Point military academy on 28 May. Delivering his "state of the world" address at the graduation ceremony of those who "will take American leadership" across the world, Obama said, "The United States will use military force, unilaterally if necessary, when our core interests demand it. International opinion matters, but America will never ask permission..."

In repudiating international law and the rights of independent nations, the American president claims a divinity based on the might of his "indispensable nation".
It is a familiar message of imperial impunity, though always bracing to hear. Evoking the rise of fascism in the 1930s, Obama said, "I believe in American exceptionalism with every fibre of my being." Historian Norman Pollack wrote: "For goose-steppers, substitute the seemingly more innocuous militarisation of the total culture. And for the bombastic leader, we have the reformer manqué, blithely at work, planning and executing assassination, smiling all the while."

In February, the US mounted one of its "colour" coups against the elected government in Ukraine, exploiting genuine protests against corruption in Kiev.
Obama's assistant secretary of state, Victoria Nuland, personally selected the leader of an "interim government". She nicknamed him "Yats". Vice President Joe Biden came to Kiev, as did CIA Director John Brennan. The shock troops of their putsch were Ukrainian fascists.

For the first time since 1945, a neo-Nazi, openly anti-Semitic party controls key areas of state power in a European capital.
No Western European leader has condemned this revival of fascism in the borderland through which Hitler's invading Nazis took millions of Russian lives. They were supported by the Ukrainian Insurgent Army (UPA), responsible for the massacre of Jews and Russians they called "vermin". The UPA is the historical inspiration of the present-day Svoboda Party and its fellow-travelling Right Sector. Svoboda leader Oleh Tyahnybok has called for a purge of the "Moscow-Jewish mafia" and "other scum", including gays, feminists and those on the political left.

Since the collapse of the Soviet Union, the United States has ringed Russia with military bases, nuclear warplanes and missiles as part of its Nato Enlargement Project.
Reneging on a promise made to Soviet President Mikhail Gorbachev in 1990 that Nato would not expand "one inch to the east", Nato has, in effect, militarily occupied eastern Europe. In the former Soviet Caucasus, Nato's expansion is the biggest military build-up since the Second World War.

A Nato Membership Action Plan is Washington's gift to the coup-regime in Kiev.
In August, "Operation Rapid Trident" will put American and British troops on Ukraine's Russian border and "Sea Breeze" will send US warships within sight of Russian ports. Imagine the response if these acts of provocation, or intimidation, were carried out on America's borders.

In reclaiming Crimea - which Nikita Kruschev illegally detached from Russia in 1954 - the Russians defended themselves as they have done for almost a century.
More than 90 per cent of the population of Crimea voted to return the territory to Russia. Crimea is the home of the Black Sea Fleet and its loss would mean life or death for the Russian Navy and a prize for Nato. Confounding the war parties in Washington and Kiev, Vladimir Putin withdrew troops from the Ukrainian border and urged ethnic Russians in eastern Ukraine to abandon separatism.

In Orwellian fashion, this has been inverted in the west to the "Russian threat".
Hillary Clinton likened Putin to Hitler. Without irony, right-wing German commentators said as much. In the media, the Ukrainian neo-Nazis are sanitised as "nationalists" or "ultra nationalists". What they fear is that Putin is skilfully seeking a diplomatic solution, and may succeed. On 27 June, responding to Putin's latest accommodation - his request to the Russian Parliament to rescind legislation that gave him the power to intervene on behalf of Ukraine's ethnic Russians - Secretary of State John Kerry issued another of his ultimatums. Russia must "act within the next few hours, literally" to end the revolt in eastern Ukraine. Notwithstanding that Kerry is widely recognised as a buffoon, the serious purpose of these "warnings" is to confer pariah status on Russia and suppress news of the Kiev regime's war on its own people.

A third of the population of Ukraine are Russian-speaking and bilingual.
They have long sought a democratic federation that reflects Ukraine's ethnic diversity and is both autonomous and independent of Moscow. Most are neither "separatists" nor "rebels" but citizens who want to live securely in their homeland. Separatism is a reaction to the Kiev junta's attacks on them, causing as many as 110,000 (UN estimate) to flee across the border into Russia. Typically, they are traumatised women and children.

Like Iraq's embargoed infants, and Afghanistan's "liberated" women and girls, terrorised by the CIA's warlords, these ethnic people of Ukraine are media unpeople in the west, their suffering and the atrocities committed against them minimised, or suppressed.
No sense of the scale of the regime's assault is reported in the mainstream western media. This is not unprecedented. Reading again Phillip Knightley's masterly 'The First Casualty: the war correspondent as hero, propagandist and mythmaker', I renewed my admiration for the Manchester Guardian's Morgan Philips Price, the only western reporter to remain in Russia during the 1917 revolution and report the truth of a disastrous invasion by the western allies. Fair-minded and courageous, Philips Price alone disturbed what Knightley calls an anti-Russian "dark silence" in the west.

On 2 May, in Odessa, 41 ethnic Russians were burned alive in the trade union headquarters with police standing by.
There is horrifying video evidence. The Right Sector leader Dmytro Yarosh hailed the massacre as "another bright day in our national history". In the American and British media, this was reported as a "murky tragedy" resulting from "clashes" between "nationalists" (neo-Nazis) and "separatists" (people collecting signatures for a referendum on a federal Ukraine). The New York Times buried it, having dismissed as Russian propaganda warnings about the fascist and anti-Semitic policies of Washington's new clients. The Wall Street Journal damned the victims - "Deadly Ukraine Fire Likely Sparked by Rebels, Government Says". Obama congratulated the junta for its "restraint".

On 28 June, the Guardian devoted most of a page to declarations by the Kiev regime's "president", the oligarch Petro Poroshenko.  
Again, Orwell's rule of inversion applied. There was no putsch; no war against Ukraine's minority; the Russians were to blame for everything. "We want to modernise my country," said Poroshenko. "We want to introduce freedom, democracy and European values. Somebody doesn't like that. Somebody doesn't like us for that." 

According to his report, the Guardian's reporter, Luke Harding, did not challenge these assertions, or mention the Odessa atrocity, the regime's air and artillery attacks on residential areas, the killing and kidnapping of journalists, the firebombing of an opposition newspaper and his threat to "free Ukraine from dirt and parasites".
The enemy are "rebels", "militants", "insurgents", "terrorists" and stooges of the Kremlin. The current campaign to blame the Russian government for the downing of the Malaysian airliner is part of this propaganda. In truth, the crime of the airliner's shooting down is a direct result of Obama's putsch in Ukraine. Summon from history the ghosts of Vietnam, Chile, East Timor, southern Africa, Iraq; note the same propagated tags, the same false flags. Palestine is the lodestone of this unchanging deceit. Following the latest Israeli, American equipped slaughter in Gaza of more than 800 Palestinians -- including 120 children -- an Israeli general writes in the Guardian under the headline, "A necessary show of force".

In the 1970s, I met Leni Riefenstahl and asked her about her films that glorified the Nazis.
Using revolutionary camera and lighting techniques, she produced a documentary form that mesmerised Germans; it was her 'Triumph of the Will' that reputedly cast Hitler's spell. I asked her about propaganda in societies that imagined themselves superior. She replied that the "messages" in her films were dependent not on "orders from above" but on a "submissive void" in the German population. "Did that include the liberal, educated bourgeoisie?" I asked. "Everyone," she replied, "and of course the intelligentsia."

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