Segundo União Africana, 60% da terra arável do
continente ainda está por ser utilizada
Tecnologia brasileira e know-how em programas sociais
podem colaborar na luta para erradicar a desnutrição no continente africano. O
enorme potencial agrícola da África desperta o interesse comercial do Brasil. O
continente africano tem um longo histórico de fome e desnutrição. Desde os anos
1960, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE),
formada principalmente por países desenvolvidos, já destinou cerca de 650
bilhões de dólares em ajuda aos países da África Subsaariana.
Ainda assim, de acordo com um relatório da Organização
das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês), o
número de pessoas subnutridas na África aumentou de 175 milhões para 239
milhões nos últimos 20 anos.
Nos últimos anos o Brasil também se juntou à luta pela
erradicação da fome no continente, principalmente devido ao know-how do país no
próprio território. O relatório da FAO mostra que o Brasil conseguiu reduzir o
número de subnutridos de 14,9% para 6,9% da população desde 1990.
Lula com representantes da AUC e FAO, em Moçambique.
Em troca, a atuação brasileira na África pode
representar uma grande oportunidade comercial e de investimentos,
principalmente no setor agrícola.
Na última semana, o diretor-geral da FAO, José
Graziano, a presidente da Comissão da União Africana, Nkosazana Dlamini Zuma e
o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva – em nome do Instituto
Lula – reuniram-se em Addis Abeba, capital da Etiópia, para discutir a ajuda ao
desenvolvimento e marcaram para março de 2013 uma reunião sobre "novas
abordagens unificadas para acabar com a fome na África".
Esforços e interesses brasileiros
Na opinião do coordenador executivo para a África do
Instituto Lula, Celso Marcondes, os programas sociais desenvolvidos nos últimos
anos ajudaram a "desenvolver a imagem do Brasil como um país que combate a
má distribuição de renda com intensidade". Segundo ele, os programas podem
ser utilizados, com as devidas adaptações, nos países africanos.
Para as empresas brasileiras, o mercado africano em
expansão abre boas oportunidades. "A balança comercial no Brasil cresceu
muito fortemente em relação à África. Empresas brasileiras estão indo [para o
continente] com cada vez mais força, tanto as grandes empresas, como também as
pequenas e médias, que começam a descobrir esse novo mercado", afirmou
Marcondes em entrevista à DW Brasil.
Para o diretor de programas da ADRA-Moçambique
(Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais), Armindo
Salato, que atua no país africano desde 1987, o diferencial da atuação
brasileira no projeto está na experiência e na tecnologia.
Para ele, que já presenciou três grandes projetos
quinquenais de agricultura contra a fome, não houve mudanças significativas nos
investimentos tecnológicos. "Nunca vi trazerem um trator para esses
projetos. Foi sempre a enxada com cabo curto, trabalho manual. Eu esperava que
em algum momento pudéssemos começar, pouco a pouco, a mecanizar a agricultura
nesses 15 anos." Com a nova parceria, Salato espera que a agricultura
industrializada se desenvolva.
De acordo com dados da União Africana, o continente
tem potencial para aumentar consideravelmente sua produção agrícola, uma vez
que quase 60% da terra cultivável ainda não é utilizada.
Uma das medidas a ser debatida na reunião em 2013 será
a necessidade de se investir na produção agroindustrial, em vez da simples
produção agrícola de subsistência. Para Salato, a "mecanização da
agricultura poderá resolver de fato, em pouco tempo, o problema da fome",
mas alertou para a necessidade de se incluir os pequenos agricultores no
programa.
Outra preocupação está nos tipos de culturas agrícolas
a serem produzidas em larga escala. Salato teme que a industrialização da
agricultura foque apenas na exportação e não invista no cultivo de alimentos.
"Temos que olhar primeiro para as necessidades da
própria África, e a primeira necessidade é a alimentar. Antes de sermos
produtores para vender para fora, temos que olhar para o consumo interno",
afirmou Salato (Fonte: Site do Vermelho)
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