O
estadista moçambicano, Armando Guebuza, desloca-se esta segunda-feira à
Tanzania, onde vai participar na Troika da Comunidade de Desenvolvimento da
Africa Austral (SADC) na qualidade de presidente em exercício desta organização
regional.
O evento terá como pano de fundo o
conflito armado na República Democrática do Congo (RDC).
Um comunicado de imprensa da presidência
moçambicana indica deverão participar no referido encontro o estadista
tanzaniano e presidente do Órgão de Defesa e Segurança da SADC, Jakaya Kikwete,
o estadista namíbiano e vice-presidnete da Troika, Hifikepunye Pohamba, o
presidente da África do Sul, Jacob Zuma Presidente, e o presidente da RDC,
Joseph Kabila.
O presidente congolês participa como
convidado, pelo facto de o conflito que assola o seu país ser a principal razão
da Troika.
Refira-se que, na semana passada,
Guebuza esteve no Ruanda para se inteirar junto ao seu homólogo ruandês, Paul
Kagame, sobre as acusações feitas pelas Nações Unidas de que o seu país estaria
a apoiar o grupo rebelde congolês M23, um movimento rebelde congolês.
O M23 (Movimento do 23 de Março) é
essencialmente composto por antigos rebeldes congoleses do Congresso Nacional
para a Defesa do Povo (CNDP), integrados no exército da RDC após um acordo com
Kinshasa, a 23 de Março de 2009, e que se amotinaram, em Abril, na região
oriental do Kivu-Norte, acusando o governo de não respeitar as disposições
deste acordo.
O estadista moçambicano far-se-á
acompanhar pelo seu Ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Oldemiro
Baloi e ainda por destacados quadros da Presidência da República e do
Ministério dos Negócios Estrangeiros e cooperação.
Breve explicação do conflito armado
na RDC e argumentos de Paul Kagame
O conflito amado que aflige a RDC ou
melhor, a província Kivu-Norte, tem como protagonistas o M23 que é liderado
pelo General Bosco Ntanganda,
Segundo um relatório elaborado por um
grupo de peritos das Nações Unidas, o M23 estaria a receber apoio moral,
material e militar do governo ruandês.
Contudo, esta acusação foi refutada
por Paul Kagame em diversas entrevistas que deu nos últimos meses a vários
órgãos de comunicação social tais como à BBC, CNN e a Al-Jazeera.
Kagame considera estas acusações de
fictícias e infundadas, alegando que os peritos das Nações Unidas limitaram-se
a colher os depoimentos de cidadãos congoleses que apanharam na rua ou que já
são anti-Ruanda.
Ele reprova o relatório, na base do
qual vários países decidiram aplicar sanções contra Kigali, vincando que na sua
elaboração os peritos das Nações Unidas não se observaram os pressupostos
básicos para este tipo de investigações, apontando o facto de o seu governo não
ter sido sequer ouvido pelos seus autores.
Por isso, Kagame considera que está
sendo julgado de uma forma injusta pelo facto de não ter sido concedido uma
oportunidade ao seu país para contar a sua versão.
Pela maneira enfática e vigorosa que
Kagame nega estar a apoiar o M23, cujos integrantes são quase todos da etnia
tutsi, a semelhança do estadista ruandês, tudo indica que terá dito o mesmo ao
presidente Guebuza durante o encontro que mantiveram em Kigali há uma semana.
No término do encontro, Guebuza disse
que Kagame forneceu explicações detalhadas com base nas quais irá analisar este
conflito armado congolês com os seus homólogos da SADC, o que certamente o fará
agora nesta reunião da Troika que terá lugar em Dar-es-Salam entre os dias 3 e
4 deste mês.
Nas várias entrevistas concedidas aos
órgãos de comunicação social Kagame vinca que o referido relatório foi feito
por pessoas não familiarizadas com assuntos militares, dando como uma das
provas, o facto de nem sequer fazerem referencia aos multiplicados encontros e
telefonemas que ele diz que tem mantido com o seu homólogo Joseph Kabila,
sempre em busca da paz para o seu país e para a região.
Kagame diz que as Nações Unidas estão
tão mal informadas sobre a região, pois até o próprio Secretário-geral Ban
Ki-moon não sabia que ele tem estado a interagir telefonicamente com Kabila
todas as semanas.
Esta interacção ocorre num ambiente
normal que não seria possível se o seu homólogo congolês o visse como parte do
problema e não quem quer ajudá-lo de boa-fé a acabar com a guerra que dilacera
o seu país e semeia sofrimento e luto no país.
“Tive que ser eu a informar o
Secretário-geral das Nações Unidas que eu tenho mantido conversações com Kabila
via telefónica todas as semanas”, disse Kagame no programa da BBC “Hardtalk”.
Ele reiterou esta mesma negação a 21
de Julho à Al-Jazeera, tendo vincado que o seu país é pela paz e harmonia na
RDC.
“Não deveríamos ser acusados de
estarmos a nos imiscuir na RDC. Se há interferência na RDC, tal ocorre entre os
seus próprios líderes e pela ineficácia das suas instituições e não se pode
acusar o Ruanda”, disse Kagame, para de seguida acrescentar “o Ruanda tem os
seus próprios problemas para resolver, e não queremos arcar os da RDC. O que
podemos fazer é trabalhar com o Congo para sanarmos os problemas que nos
afectam. Mas não podemos nos ocupar dos problemas do Congo.
Tudo indica que terá sido este quadro
dos factos que Kagame poderá ter apresentado ao presidente Guebuza no encontro
mantido semana passada em Kigali, e que o estadista moçambicano irá expor aos
seus homólogos na Tanzânia, para que possam deliberar o caso do Ruanda.
A presença de Kabila poderá facilitar
a leitura deste quadro. (RM/AIM)
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