quinta-feira, 30 de setembro de 2010

"MODELO EUROPEU NÃO FUNCIONA EM ÁFRICA" - Roeland van de Geer

28 setembro 2010/Rádio Moçambique http://www.rm.co.mz

“Uma chance perdida e total falta de coordenação". Estas são as marcas registadas da actuação internacional da União Européia segundo o diplomata holandês Roeland van de Geer. Van de Geer é o novo embaixador da União Européia na África do Sul. "A China e o Brasil avançam em África, perdemos nossa posição de monopólio".

"É preciso melhorar muito a actuação internacional da União Européia e mesmo assim estou a falar de maneira muito leve. Na verdade, não estou a falar de melhorias, precisamos construir tudo de novo".

O diplomata é conhecido pela sua maneira directa de falar. Embora seja um diplomata dedicado, não é daqueles que dá respostas evasivas aos seus interlocutores. São poucos os diplomatas que permanecem no cargo que são dessa forma. Mas Roeland van de Geer continua um diplomata.

Ele foi embaixador da holanda em países como Afeganistão e Moçambique. Nos últimos anos actuou como enviado especial da União Européia na região dos Grandes Lagos Africanos, uma região pós-conflitos. Agora ele coroa o seu trabalho: a pedido da ministra das Relações Exteriores da União Européia, Catherine Ashton, será o embaixador do bloco europeu na África do Sul.

Distâncias africanas
Devido à sua experiência em África, Ashton quer que Van de Geer se ocupe não apenas da África do Sul, mas também dos demais países africanos. Em fevereiro de 2011 ele deve se instalar em Pretória. O seu novo cargo significa também uma reunião com a sua esposa, que é embaixadora holandesa em Moçambique. "O que, para distâncias africanas, é ali na esquina".

O cargo de Van de Geers faz parte das 136 novas missões européias que, sob a liderança de Ashton, fará com que a União Européia seja melhor representada no mundo. Já era altura que isso acontecesse, diz Van de Geer. Ele vê "muitas chances perdidas e uma falta de coordenação geral dos estados membros entre si." Ele sentiu as consequências em países como Congo e Ruanda.

"A Europa tem como prioridade ajudar o desenvolvimento, os direitos humanos e o apoiar à boa administração. Mas com frequência perdemos a eficiência de vista. Por exemplo: construímos hospitais, mas esquecemos de investir em formação de enfermeiras e o material para a manutenção de um hospital".

Van de Geer acredita que dizer que a Europa acabou com a África é um "julgamento duro". Mas ele admite que a Europa não se preocupou com sustentabilidade. "Com isso, os nossos interlocutores são com frequência africanos que se criaram e estudaram na Europa. Que se transformaram em europeus e por isso se tornaram estrangeiros em África. Não quero culpar ninguém, mas com certeza perdeu-se muito dinheiro porque o modelo europeu nem sempre funciona na África".

Chineses pragmáticos
Neste meio tempo, países como o Brasil, a China e a Índia actuam em África com motivos muito mais pragmáticos. "Nós construímos as suas estradas em troca das suas matérias-primas" é o credo dos chineses no Congo.

"O que é verdade", diz Van de Geer. "A China e o Brasil estão a avançar em África e a Europa perdeu a sua posição de monopólio. Mas os chineses ainda vão sofrer com a má administração em África. A sossa abordagem é muito diferente da chinesa. Mas no futuro, devemos nos aproximar".

Desvio
Com a chegada de novas embaixadas européias, domina a inquietação nas tradicionais embaixadas bilaterais que temem tornarem-se desnecessárias. Não há motivo para isso, diz Van de Geer. Países com uma importância secundária na África do Sul, por exemplo, irão fechar as suas embaixadas e cederão o trabalho à embaixada da União Européia.

Mas este não é o caso da Holanda. Van de Geer não vai desviar a Holanda da sua rota. Eles continuam responsáveis pelas delegações comerciais na África do sul e manterão as relações políticas bilaterais e os contactos culturais. Os grandes compromissos políticos e as relações comerciais entre a Europa e a África do Sul, no entanto, serão de domínio exclusivos do embaixador europeu. (Fonte: Rádio Nederland Wereldomroep)

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