quarta-feira, 31 de julho de 2019

Mercosul, Brasil/Lula a Felipe Santa Cruz: ‘Nada poderá reparar o sacrifício de seu pai’


30/07/2019 16:01, Rede Brasil Atual (Brasil) https://www.redebrasilatual.com.br/politica/2019/07/lula-carta-felipe-santa-cruz/

Publicado por Redação RBA

Presidente da OAB recebe carta: "Sempre vamos reverenciar nossos verdadeiros heróis, e é isso que os tiranos não conseguem suportar"

'É como se violentassem o seu pai mais uma vez, e junto com ele todas as vítimas da ditadura', disse Lula

São Paulo – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou uma carta de solidariedade, nesta terça-feira (30), ao presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, que teve a memória de seu pai, Fernando Augusto Santa Cruz de Oliveira, desrespeitada por Jair Bolsonaro. Na véspera, a família Santa Cruz foi atacada por Bolsonaro, que afirmou que “se o presidente da OAB quiser saber como o pai desapareceu no período militar, eu conto pra ele”, em referência a Fernando Santa Cruz, desaparecido político da ditadura civil-militar, desde 1974. Fernando foi preso por agentes do DOI-Codi, no Rio de Janeiro, em fevereiro daquele ano.

“Só quem suportou o sofrimento de perder um ente querido, sem ter sequer o direito de velar seu corpo, poderá avaliar a dor que vocês sentem nesse momento. É como se
violentassem o seu pai mais uma vez, e junto com ele todas as vítimas da ditadura”, escreveu Lula.

O pai do presidente da OAB também foi acusado por Bolsonaro de integrar a luta armada, porém no relatório da Comissão Nacional da Verdade, responsável pela investigação de casos de mortos e desaparecidos durante o período de repressão, não há registro de participação de Fernando.

“Nada poderá reparar o sacrifício de seu pai, meu caro Felipe, nem a ofensa brutal que o vitimou mais uma vez. Mas tenha certeza de que a imensa maioria do povo brasileiro ama a paz e a democracia. Sempre vamos reverenciar nossos verdadeiros heróis, e é isso que os tiranos não conseguem suportar”, acrescentou Lula.

Leia a carta na íntegra:

Meu caro Felipe Santa Cruz,
Quero me solidarizar com você e sua família pela cruel desrespeito que os atingiu no dia de ontem. Só quem suportou o sofrimento de perder um ente querido, sem ter sequer o direito de velar seu corpo, poderá avaliar a dor que vocês sentem nesse momento. É como se violentassem o seu pai mais uma vez, e junto com ele todas as vítimas da ditadura.

O Brasil não merece ouvir as palavras de ódio de quem, pelo cargo que ocupa, deveria se referir com respeito aos que sacrificaram a vida pela liberdade em nosso país. Ao atacar os mais frágeis e os que nem podem mais se defender, esse mau presidente revela seu caráter covarde.

Nada poderá reparar o sacrifício de seu pai, meu caro Felipe, nem a ofensa brutal que o vitimou mais uma vez. Mas tenha certeza de que a imensa maioria do povo brasileiro ama a paz e a democracia. Sempre vamos reverenciar nossos verdadeiros heróis, e é isso que os tiranos não conseguem suportar.

Com o reconhecimento de sua corajosa defesa da democracia e da memória de Fernando Santa Cruz,

Luiz Inácio Lula da Silva


Mercosul, Brasil/Como ‘tirano inebriado’, Bolsonaro pode responder por crime de responsabilidade por falta de decoro

Publicado por Redação RBA 30/07/2019 11:14, Rede Brasil Atual (Brasil) https://www.redebrasilatual.com.br

Tânia Rêgo, ABr

Especialistas consultados pela Rádio Brasil Atual afirmam que presidente pode responder por falas que destoam de cargo que ocupa. "Bolsonaro passou qualquer limite de decência', diz professor da USP sobre declaração da morte do pai do presidente da OAB
   
Yuri Félix e Jean Tible explicam que apesar de responder por crime, impeachment dependeria de forças políticas para ser pautado

São Paulo – “Não resta a menor dúvida”, de acordo com o doutor em Processo Penal e diretor do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCrim) Yuri Félix, que o presidente Jair Bolsonaro cometeu crime de responsabilidade em sua afirmação sobre a morte de Fernando Santa Cruz de Oliveira, pai do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz. Nesta segunda-feira (29), ao comentar o desfecho do processo judicial que considerou Adélio Bispo, autor da facada em Bolsonaro, isento de pena por doença mental e a posição da OAB contra a investigação do advogado de Adélio por ferir o sigilo da relação entre cliente e defensor, o presidente da República ironizou o desaparecimento do pai de Felipe. “Quem é essa OAB? Um dia se o presidente quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar conto para ele, ele não vai querer ouvir a verdade”, disse Bolsonaro.

Aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, da Rádio Brasil Atual, o diretor do IBBCrim avalia que o presidente feriu o decoro que um representante do poder público necessariamente deve ter por conta do cargo que ocupa. Portanto, o presidente poderia ser enquadrado na Lei 1.079/1950. “O crime foi cometido, não resta dúvida e, isso para dizer o mínimo”, afirma Yuri. “Ele (Bolsonaro) faz um comentário desse, desrespeitando a família do presidente de uma instituição como a OAB e, em sua fala pergunta quem é a OAB. Isso significa que o presidente não leu a Constituição, porque se ele tivesse lido ele saberia quem é a OAB.”

Por sua vez, o professor do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP) Jean Tible avalia que Bolsonaro, além de parecer cada vez mais à vontade para proferir falas ofensivas  e se comportar como um “tirano inebriado”, também mentiu sobre o episódio, ao dizer que o pai do presidente da OAB “integrou o grupo Ação Popular, o grupo mais sanguinário e violento de Pernambuco e veio desaparecer no Rio de Janeiro”. Documentos da Comissão Nacional da Verdade (CNV) mostram, no entanto, que Santa Cruz foi morto por agentes da ditadura civil-militar. “Bolsonaro passou qualquer limite de decência, está tripudiando sobre a memória de um pai e ainda mentindo, porque não é correta a versão que ele passou”, ressalta Jean.

A recente declaração se soma ainda a outras do presidente da República questionadas pelo teor preconceituoso e muitas vezes embasadas também em dados falsos, como  ataque a jornalistas, chamar os nordestinos de “paraíba”, entre outras.

Apesar de todo o escândalo que provoca e crimes que comete, um eventual pedido de impeachment do presidente, a partir da lei de crimes de responsabilidade, dependeria da correlação de forças políticas, de acordo com os especialistas ouvidos pela Rádio Brasil Atual. “Temos um governo que destoa do padrão de relacionamento anterior entre os poderes, de respeito”, descreve o professor da USP.

Para Yuri e Jean, esse é o momento de a esquerda apresentar um projeto alternativo de país que dê conta dos anseios da população para evitar com que os ataques de Bolsonaro passem com indiferença. “Se não tivermos essa capacidade de propor algo viável, concreto e objetivo para alterar a vida do trabalho comum, nós não vamos avançar, e a tendência não é alvissareira, a tendência é essa postura cada vez mais desavergonhada de personagens mais autoritários da nossa política”, alerta o diretor do IBCCrim.

Ouça a íntegra das entrevistas



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