segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Angola/OS ACTIVISTAS E A “MEMÓRIA DE PASSARINHO”

8 novembro 2015, Jornal de Angola http://jornaldeangola.sapo.ao (Angola)

De forma recorrente temos ouvido a oposição angolana a propalar que em Angola vive-se num regime ditatorial. Os autoproclamados activistas políticos fazem coro em fila indiana com a oposição e, cá dentro e lá fora, vão repetindo a mesma cantilena.

O objectivo dessa campanha -- é disso que na verdade se trata - é o de criar as condições psicológicas para mais facilmente poderem justificar as acções de subversão política e desacreditar tudo de bom que até agora tem sido feito em Angola e apresentar ao mundo o Executivo angolano como uma instituição que atropela todos os valores da democracia.

É preciso ser pouco criativo para conceber e alinhar numa campanha desse tipo.

Em Angola o partido que perdeu as primeiras eleições multipartidárias na história do país, realizadas em Setembro de 1992, rejeitou os resultados eleitorais e partiu para a guerra. Esse partido foi militarmente derrotado e os seus dirigentes foram salvos da morte certa, levados a reorganizar a sua formação política e a concorrer de forma livre em eleições. Em que ditadura isso acontece?

Em que ditadura se permite que esse mesmo partido seja a maior formação política da oposição e tenha uma rádio que ataque diária e sistematicamente o Governo?

Em que ditadura já se realizaram três eleições, duas das quais simultaneamente legislativas  e presidenciais, e os partidos políticos ocuparam os seus lugares no Parlamento? Em que ditadura existe
legislação que permite a constituição de diferentes partidos políticos e se admite, por lei, que possam ser criadas associações das mais variadas matizes e se pratique o activismo político na forma em que ele é desenvolvido?

Em que ditadura se consagra a existência de publicações com as mais diversas linhas editoriais e elas até aparecem à luz do dia como cogumelos e se mantêm ou desaparecem ao sabor das regras do mercado?

Em que ditadura é que se permite que uma eurodeputada visite o país, contacte os partidos políticos da oposição, associações cívicas e vozes críticas ao Governo e ao partido que venceu com maioria qualificada as eleições?

Em que ditadura se permite que presos acusados de prepararem uma rebelião possam ser visitados por delegações de partidos e outras instituições? Não teriam já sido eliminados?

Simplesmente nenhuma dessas realidades se ajusta à etiqueta de ditadura que se pretende, à força de repetir tantas vezes, colar a Angola. É incompreensível a forma como a oposição se entrega totalmente a essa campanha fazendo do extremismo verbal uma bandeira, pensando que assim estará a dar mostras de ser aguerrida, mas que na realidade é remar em sentido contrário à promoção dos valores essenciais que devem nortear a construção da democracia, como o respeito pelos símbolos do Estado. Não é o extremismo uma evidência eloquente do quão frágeis são os seus argumentos?

Nisso não há diferença entre a oposição e os activistas políticos. São a face e a contra face da mesma moeda. Vira-se o disco e toca a mesma música.

E por esse prisma todos os atalhos e expedientes são válidos para se chegar ao poder. Nota-se a impaciência dessa “frente de falsários”, constituída pela oposição mais os activistas, que quer-se substituir aos órgãos instituídos e prefere o caos instalado a ter de enfrentar nas urnas o veredicto popular. Em 2017 os angolanos vão às urnas, pela quarta vez na sua história, e todas as forças políticas devem preparar-se para disputar o pleito com fair play. Digam-nos em que ditadura é que os órgãos do Estado primam para que haja regularidade nos pleitos eleitorais e empenham-se para que seja apenas o voto nas urnas a ditar quem deve governar?

É preciso ter “memória de passarinho” para não entender que a realidade que pintam, propalam e vendem lá fora não se compagina com o que se vive em Angola, onde, graças ao esforço do Executivo e de todos os angolanos que almejam o progresso, podemos dizer que somos mais felizes agora porque soubemos pôr ponto final à guerra e estamos a construir um novo país. Com todas as falhas que podem ser apontadas, e que não podemos ignorar que existem e deverão ser ultrapassadas, os angolanos são mais felizes agora do que há 13 anos, quando as línguas de fogo do conflito militar devoravam vidas humanas e semeavam por todo o país a destruição.

Graças ao esforço do Executivo podemos dizer que somos mais felizes porque os angolanos souberam impedir que a guerra fosse de novo imposta ao país, por via da exportação das “primaveras árabes” para dentro das nossas fronteiras.

Sabemos que muitas das manifestações que estavam a ser preparadas não seriam tão pacíficas como se pretende fazer crer. Temos consciência do que a imprudência é capaz de gerar. Angola inteira não se pode permitir a um recuo da economia, ao regresso à destruição e ao atraso no processo de construção de uma realidade política assente na estabilidade das instituições.

O contrário seria deixar que se reproduzissem no nosso país as realidades que hoje marcam a Líbia, o Iraque e a Síria, porque a democracia tudo permite… Até incendiar o país. Por isso se inventa que em Angola há um regime de ditadura, que precisa de ser derrubado através de manifestações de rua incendiárias e não através do voto.
Essa é a lógica da campanha em curso.


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