terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

A OTAN JÁ ESTÁ EM GUERRA NA UCRÂNIA... E ESTÁ PERDENDO

5 fevereiro 2015, Redecastorphoto http://redecastorphoto.blogspot.com (Brasil)
5/2/2015,  Finian Cunningham*  Strategic Culture
Tradução: mberublue.


A Junta de Kiev-OTAN promovem a NAZIFICAÇÃO da Ucrânia

Em mais um espetáculo de malabarismo, a mídia ocidental está, nesta semana, apresentando de maneira distorcida a noção de que os Estados Unidos e a OTAN estariam “considerando enviar ajuda militar letal” para “defender” o regime de Kiev de uma “agressão russa”.

Não passa de uma piada sem graça. A explicação real reside no fato de que a OTAN está perdendo a guerra que trava na Ucrânia e necessita de mais suprimento militar para tentar recuperar pelo menos um pouco do prejuízo.

Em primeiro lugar, a imprensa-empresa ocidental reconhece maliciosamente que a OTAN, liderada pelos Estados Unidos supostamente até este momento “só enviou para o teatro de guerra equipamento militar não letal”. Essa desonestidade retórica tem a intenção de demonstrar que esse “material não letal” de alguma forma não se trata de equipamento militar. Ocorre que, letal ou não letal, equipamento militar é equipamento militar. Então, vamos deixar a semântica de lado. Os Estados Unidos e seu alter ego de relações públicas conhecido como OTAN, já estão profundamente envolvidos na guerra da Ucrânia através de forte apoio ao regime de Kiev, já há mais de dez meses em combates na ofensiva do leste ucraniano que apenas até este momento, já causou mais de 5.300 mortes.

Em segundo lugar, não passa de uma ilusão patética a noção de que Washington estaria “reconsiderando” a possibilidade de enviar para a Ucrânia “ajuda letal” conforme o que foi relatado na segunda feira pelo jornal New York Times.Equipamento militar letal já está sendo enviado para a Ucrânia pelos Estados Unidos e seus aliados da OTAN. Apesar disso,
o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse nesta semana que não resolverá o conflito “colocar mais armas letais na Ucrânia”. Enquanto isso, a chanceler alemã Angela Merkel, acrescentando que o conflito não pode ser resolvido por meios militares, prometeu que a Alemanha tampouco fornecerá armas para a Ucrânia. Tanto Obama quanto Merkel, ou são terrivelmente falsos ou vivem no mundo da Lua. Provavelmente, ambas as coisas.

Vamos encurtar a história. Não só agora, mas desde o ano passado a OTAN está em plena guerra na Ucrânia, se não nas últimas décadas, de forma secreta.

Em sua coluna da SCF (Strategic Culture Foundation) desta semana, Wayne Madsen fornece provas precisas e detalhadas de que um avião gigante de transporte, o Antonov AN124, ucraniano, foi detectado enquanto transportava armas em um vôo através de vários países da OTAN para Kiev nos últimos quatro meses, pelo menos. O avião de transporte – o maior do mundo para este tipo de aeronave – foi visto sendo carregado nos Estados Unidos, Noruega, Itália e Romênia na missão secreta de canalizar armas pesadas para o regime de Kiev.

Antes disso, o governo russo já havia afirmado que foram registrados em operação dentro da Ucrânia, mercenários dos Estados Unidos, provavelmente da empresa Blackwater/Academi, empresa de segurança contratada pelo Pentágono, lado a lado com unidades do exército ucraniano, incluindo-se a Guarda Nacional Ucraniana, unidade ao estilo nazista da SS.

Nesta semana, Alexei Karyakin, porta voz da auto declarada República Popular de Lugansk disse que pedaços de munições da OTAN foram recuperadas em várias zonas de combate.

As marcas da OTAN estavam em vários fragmentos das munições recuperadas... Agora a OTAN está matando nossos concidadãos, disse Karyakin.

No início deste mês, quando a milícia pró russa de auto defesa retomou o Aeroporto Internacional de Donetsk das forças de Kiev, que o estavam usando como local favorável para bombardear Donetsk nos meses passados, relataram que entre restos carbonizados foram encontrados manuais da OTAN em várias línguas europeias, além de outros itens identificados como equipamento padrão da OTAN.

A Lei de Apoio à Liberdade da Ucrânia foi aprovada pelo Congresso dos Estados Unidos no final do ano passado, tornando obrigatória a concessão de ajuda letal e não letal para o regime de Kiev no valor de 350 milhões de dólares. A administração Obama tenta manter a fantasia de que teria agido no sentido de prover apenas ajuda “não letal” na Lei, mas isso é tentar esticar nossa credulidade até os limites do rompimento.

O entendimento de que os Estados Unidos e seus aliados da OTAN, Inglaterra, Polônia e Estados Bálticos inclusive, estão agora – e só agora – especulando sobre a possibilidade de fornecimento de equipamento letal para o regime de Kiev é simplesmente risível.

Na realidade, de acordo com relatórios de fontes confiáveis, as tropas de choque paramilitares do partido neonazista Setor de Direita (Pravy Sektor) foram usadas para incitar os protestos letais de Maidan em novembro/2013, o que teve como consequência o golpe de Estado que derrubou o governo eleito do presidente Yanukovich em fevereiro do último ano, estiveram em treinamento por meses em campos militares na Polônia, aprendendo técnicas de subversão e terrorismo. A Polônia, um membro da OTAN, e a agência americana CIA instrumentalizaram assim o fornecimento de “cães de guerra” que precipitaram a crise da mudança do regime e da guerra civil que hoje se desenrola na Ucrânia.

Podemos voltar ainda para a “revolução colorida” de 2004, inspirada pela CIA, ou ainda para 1991, quando a URSS entrou em colapso e os Estados Unidos começaram a infiltração e fomentação, regada a cinco bilhões de dólares, de “grupos da sociedade civil” na Ucrânia. A denominação não passa de um eufemismo para a cobertura dos agentes da desestabilização promovida por Soros-CIA-USAID. Quando, no final de 2013, a estridente Victoria Nuland, neocon do Departamento de Estado se gabou desajeitadamente durante os protestos de Maidan de ter dispendido cinco bilhões de dólares em fundos de cortesia, tomamos conhecimento dos fatos. Ainda nesta semana a comparsa de Nuland no Departamento de Estado, Jan Psaki, mais uma vez desvendou aos repórteres que os Estados Unidos estão envolvidos em “trabalhos junto à oposição ucraniana” no anelo de garantir que o país continue seguindo “um bom caminho” para a “transição”.

O momento em que se renovam as cismas sobre os presumíveis apoios “letais” é a parte interessante da história. O jornal The New York Times cita funcionários de nível superior e antigos funcionários governamentais que passaram a apoiar o envio dos tais equipamentos militares. Entre eles, contam-se o Secretário de Estado, John Kerry, o Comandante do Estado Maior, General Martin Dempsey, o comandante militar da OTAN, general Philip Breedlove, assim como seu antecessor, o almirante James Stravidis. Algumas outras personalidades pertencem ao Instituto Brookings e ao Conselho do Atlântico. Esses think tanks (organizações ou grupos de reflexão e pesquisa que se pretendem independentes, para a confecção e disseminação de ideias sobre temas variados que podem incluir desde economia, política, ciência e até mesmo assuntos militares- NT) recomendaram ao governo dos Estados Unidos, que fornecessem ao regime de Kiev equipamento militar no valor de 3 bilhões de dólares (U$ 3.000.000.000) para os próximos três anos. Isso significa dez vezes mais que o concedido pelo Congresso norte americano, dominado por entusiasmados republicanos.

A Radio Europa Livre, agência de notícias vinculada à CIA, “esclarece” que o debate sobre o incremento de ajuda militar ao regime de Kiev foi “intensificado” porque: “o governo ucraniano (regime de Kiev) sofreu importantes derrotas militares nas últimas semanas, o que tornou cada vez mais claro que o cessar fogo não funciona”.

Isto é, a junta militar apoiada pelo ocidente está perdendo a guerra – apesar de já desfrutar do apoio da OTAN e mesmo tendo supostamente reagrupado suas forças ofensivas após o cessar fogo.

Além disso, o jornal The New York Times acrescenta outro fator aos motivos pelos quais Washington agora quer a escalada da agenda militar, que seja: as sanções econômicas impostas contra a Rússia “não dissuadiram” o governo do presidente Vladimir Putin. Ou como a porta voz do Departamento de Estado, Jan Psaki, afirmou, a Rússia não “mudou seu comportamento”. O significado é o seguinte: a Rússia se recusou a ficar de joelhos e adotar um comportamento servil, confrontando as ambições hegemônicas globais de Washington.

Washington e seus servis vassalos europeus começam a perceber que o seu esquema execrável para a mudança de regime na Ucrânia corre o risco de dar em nada. Agora, Washington está tentando salvar seu desastrado gambito para subjugar a Ucrânia e por extensão a Rússia, através da escalada da aposta militar.

Mas Washington não pode, sem riscos, aumentar abertamente seu envolvimento militar por razões políticas adversas tanto nacional quanto internacionalmente. Os Estados Unidos tem que ser muito cuidadosos para não deixar transparecer que já se encontra envolvido militarmente até o pescoço na Ucrânia, da mesma forma que seus parceiros da gang da OTAN.

Assim, Washington prefere retratar a situação como a “defesa” do regime de Kiev, que dirige um país que anela se juntar à União Europeia, que ama a democracia e que está sendo hostilizado pelos insurgentes, os quais por sua vez não passariam de fantoches travando uma guerra de procuração sob inspiração da Rússia.

As mentiras sistemáticas que os Estados Unidos e a OTAN tem despejado durante meses sobre o conflito na Ucrânia se refletem nessa linguagem e raciocínio tortuosos.

A singela verdade é que a OTAN, liderada pelos Estados Unidos, está descaradamente escalando a guerra na Ucrânia e dela participando. Pior: está perdendo a guerra desde seu início. Não é por outra razão que agora Washington tenta realizar todas as acrobacias retóricas na tentativa de enganar a população ocidental em concordar com uma enorme escalada militar de “sua” guerra, sob o pretexto de fornecer “armas letais defensivas”.

*Finian Cunningham nasceu em Belfast, Irlanda do Norte, em 1963. Especialista em política internacional. Autor de artigos para várias publicações e comentarista de mídia. Recentemente foi expulso do Bahrain (em 6/2011) por seu jornalismo crítico no qual destacou as violações dos direitos humanos por parte do regime barahini apoiado pelo Ocidente. É pós-graduado com mestrado em Química Agrícola e trabalhou como editor científico da Royal Society of Chemistry, Cambridge, Inglaterra, antes de seguir carreira no jornalismo. Também é músico e compositor. Por muitos anos, trabalhou como editor e articulista nos meios de comunicação tradicionais, incluindo os jornais Irish Times e The Independent. Atualmente está baseado na África Oriental, onde escreve um livro sobre o Bahrain e a Primavera Árabe.


Nenhum comentário: