quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

IRÃ: 36 ANOS DE REVOLUÇÃO NACIONALISTA

15 fevereiro 2015, Pátria Latina http://www.patrialatina.com.br (Brasil)

Beto Almeida*

 Batalhão de mulheres nas Forças Armadas do Irã

Os iranianos, herdeiros dos persas, povo altivo e forte, construíram nação mediante palavra de ordem nacionalista, para se salvarem do jugo imperialista anglo-saxão há 35 anos. Desde então, têm sofrido ataques imperialistas que tentam reverter o curso da história traçado pela consciência transformadora do povo. Mas, a determinação política dada pelo nacionalismo no Irã ergueu-se como barreira intransponível para aqueles desejosos de uma volta ao passado. Hoje, a indústria nacional iraniana é fonte de formação de mão de obra altamente especializada engajada na defesa de estrutura produtiva competitiva a partir da transformação da riqueza nacional, o petróleo, em agregação de valor diferenciado, tornando o Irã fonte de transformações quantitativas e qualitativas capazes de colocar o País no cenário internacional como ator de primeira grandeza responsável por impor sua própria agenda desenvolvimentista ancorada no interesse nacional. A revolução foi fundo, dotou os iranianos de uma autoestima e uma autoconsciencia que resistiram e continuarão a resistir a todas as tentativas de subjugá-los. Por conta dessa postura independente, o Irã virou o jogo a seu favor e colocou os Estados Unidos diante da necessidade de mudar seu discurso e sua postura na tentativa de fazer com que os iranianos se subordinassem aos ditames de jogo de poder das potências imperiais no sentido de impedir o país de alcançar sua autosuficiência energética e seu desenvolvimento do ciclo nuclear. O Irã hoje completa o ciclo do processo industrial, culminando com a produção bélica e espacial sem a qual as inovações de ponta não se realizam, para
serem posteriormente transformadas em bens e serviços no mercado de consumo, com patentes próprias, dotando o país de fonte de recursos advindos das conquistas científicas e tecnológicas. Tamanha desenvoltura e firmeza política, conquistada por meio de determinação política que somente a revolução nacionalista confere,  representa exemplo significativos para os povos que lutam pela sua independência como, por exemplo, os da América do Sul.

Já que estamos todos falando, diuturnamente,  de petróleo e  Petrobras, falemos hoje de um país petroleiro, o Irã, que neste dia 11 de fevereiro festeja os 35 anos de sua Revolução, comemorada com gesto de resistência daquele povo na defesa de sua soberania, que envia mensagens importantes a todos os países, mas muito especialmente ao Brasil, também ameaçado,  em razão, entre outras, da grandeza dos mananciais petrolíferos que possui e da importante, eficiente e potente empresa estatal petroleira que construiu.

Tal como o Irã , em 1953, alvo de  um golpe de estado patrocinado pelo imperialismo inglês que veio a derrubar o presidente Mossadeg, um nacionalista que corajosamente havia nacionalizado o petróleo iraniano, também o Brasil veio a sofrer, em 1954, um ano após a criação da Petrobras, um processo de desestabilização golpista que levou à morte o igualmente nacionalista e popular presidente Getúlio Vargas. Tal como ocorreu no Irã, o imperialismo também não aceitou,  nem respeitou a soberana decisão do povo brasileiro que, por meio de uma campanha popular  “O petróleo é nosso!”,  que uniu militares,  trabalhadores, estudantes e donas de casa, e, nas ruas, conquistou a criação da Petrobras, sancionada por Vargas em outubro de 1953. Essa mesma mídia que hoje afirma que a Petrobrás precisa ser privatizada, que não tem sentido a presença da estatal na exploração e produção do petróleo pré-sal, é a mesma mídia que dizia, em 1953, que Vargas era louco por “criar uma empresa de petróleo num país que não o possui”.

É esta mesma mídia, teleguiada pelas grandes corporações internacionais, que busca desconstituir a imagem da grande Nação Persa que ora, sob vento e tempestade , envia ao mundo a suprema  mensagem de ter sido capaz de resistir por 35 anos às mais sórdidas agressões, sabotagens, sanções e boicotes praticados pelos países  imperiais derrotados com a nacionalização do petróleo iraniano, uma das primeiras decisões da Revolução de 11 de fevereiro de 1979.

Mesquitas e revolução
Aquela revolução surpreendeu o mundo por seu enraizamento popular, convocando homens, mulheres, transformando criativa e inteligentemente as mesquitas, além de local sagrado para as preces, também em sagrado local para cultuar a libertação, para projetar a transformação, para sonhar e organizar a independência. Tal como Chávez e seu movimento bolivariano e os Capitães da Revolução dos Cravos em Portugal transformaram os quartéis em espaços libertários, também o povo persa enriqueceu as mesquitas com o local de conquistar o futuro.

Hoje o futuro chegou para a Nação Persa. A indústria petroleira iraniana é totalmente nacionalizada. Aqui começam as mensagens que a Revolução Iraniana, nos seus 35 anos de edificação e resistência, envia ao mundo, particularmente ao Brasil, que viu tenebrosa transação para desnacionalizar boa parte das ações da Petrobras, a preços indecentemente  desvalorizados, na Bolsa de Nova York, em 1997. O Irã prova que é possível resistir e que mesmo agredido, cercado, sabotado, sancionado, pode-se avançar, progredir e ter uma indústria de petróleo sem um único técnico que não seja iraniano (antes de 1979, os técnicos eram ingleses em sua maioria), além de possuir uma importantíssima capacidade de refino.

Como esta mídia que está tentando demolir a Petrobras e também o  governo que ampliou sua presença na economia petroleira não informa, vale dizer que a refinaria de Shazand, próxima à cidade de Arak, será a primeira no Iran com capacidade processar 4 mil barris diários, convertendo mais de 90 por cento do óleo cru que recebe em gasolina, gás liquefeito, propano, querosene, diesel , óleo e alcatrão. A maior do mundo! É impossível não notar o contraste desta informação  com declaração  da ex-presidente da Petrobras,  Graça Foster, de que a estatal brasileira não teria condições de construir sozinha, ou seja, sem capital externo, novas refinarias, propagando com isto uma nuvem de dúvidas e interrogações. Se o Brasil é a quinta ou sexta economia do mundo e não tem capacidade para construir novas refinarias, como é que o Iran que nacionalizou praticamente toda sua economia petroleira tem? Esta seria apenas um delas, claro…

Quem é ameaça?
Nestes 35 anos, o Iran realizou regularmente 8 eleições presidenciais pelo voto direto. Os EUA, nenhuma! O Iran não atacou, não agrediu, não invadiu nenhum país em todo este período. Já os EUA intervieram militarmente em Granada, Panamá, Somália, Irak, Afeganistão, Líbia, apoiam oficialmente a agressão contra a Síria, a ação imperialista da França contra o Mali, as sanguinárias intervenções militares de Israel contra a Palestina, contra o Líbano (onde foi derrotado), instalaram prisões e centros de tortura em 54 países do mundo e mantiveram o bloqueio ilegal contra Cuba. Mas, graças ao controle do fluxo midiático internacional, uma avalanche diária de mentiras apregoa que o Iran seria supostamente uma ditadura, um perigo para a humanidade, inclusive por pretender ter acesso pleno ao desenvolvimento da tecnologia nuclear. Afinal, os EUA não têm tecnologia nuclear e não foi o único país a usar a bomba atômica contra o povo japonês, no maior atentado terrorista registrado na era moderna?

As mensagens iranianas ao mundo, e ao Brasil, não param por aí.  A primeira reação dos EUA ante a Revolução Iraniana foi bloquear os depósitos bancários do Irã, de 100 bilhões de dólares, nos bancos internacionais. Obviamente, uma ilegalidade. Os EUA são, porém, apresentados como “democráticos”, enquanto o Irã estaria fora da legalidade por nacionalizar seu petróleo, escolher seu próprio caminho, realizar eleições diretas em todos os níveis, algo proibido na ditadura do Xá Reza Pahlevi, apoiado pelo imperialismo anglo-saxônico.

Comparemos: desde os anos 50, na Era Vargas, o Brasil possui um programa nuclear, pelo qual teve sequestradas, por comandos militares dos EUA , em pleno porto de Hamburgo, as centrífugas que importara da Alemanha. O Irã, na época do Xá, recebia apoio para desenvolver seu programa nuclear, com apoio da Inglaterra e dos EUA. Após a Revolução Iraniana, estes países imperiais comandaram a imposição de sanções contra o Irã por pretender ter pleno acesso a esta tecnologia nuclear. Hipocrisia sem limites, com apoio da mídia que rotula a nação persa como ameaça, quando na realidade, quem sempre esteve e continua envolvido em guerras e em intervenções militares ilegais sobre outros povos são os EUA e a Inglaterra.

Sabotagens
Desde os anos 60 o Brasil possui um Programa Espacial, mas ele andou muito devagar nestas 5 décadas, apesar das enormes vantagens comparativas para  desenvolvermos, na base de Alcântara, intensa atividade espacial. Para esta lentidão concorre, conforme já denunciou o Wikelikis, sabotagens especialmente organizadas pelos EUA contra o nosso programa espacial. Assim, enquanto até hoje estamos sem um esclarecimento  cabal acerca da estranhíssima explosão em Alcântara  que, no primeiro ano do governo Lula, matou os mais experimentados técnicos do Programa Espacial Brasileiro, o Irã já lançou sua primeira nave tripulada ao espaço sideral. Toda tecnologia é nacional, apesar do boicote imposto, das agressões militares constantes, das sanções econômicas, que proíbem aos persas, por exemplo, acesso a peças de reposição para sua indústria aeronáutica, ferroviária etc

Qualquer discussão em torno da experiência iraniana é sempre motivo para um dilúvio de preconceitos e desinformações, além de acusações completamente  estapafúrdias. As mulheres iranianas são apresentadas pela mídia ocidental como se fossem culturalmente atrasadas, reprimidas, sem protagonismo social, quando as estatísticas indicam  que elas ocupam posição majoritária nas profissões mais especializadas, tais como medicina, engenharia espacial, indústria de medicamentos. Mas isso nunca é revelado, tampouco que a decisão de manter o uso do chador (véu), foi adotada em plebiscito nacional  por  mais de 90 por cento dos votos. Trata-se de uma cultura, um costume milenar.

Intolerância
Tenta-se apresentar o regime iraniano como o mais brutal, o mais cruel, o mais intolerante, sobretudo com relação às mulheres e aos homossexuais. Mas, aqui mesmo no Brasil há estatísticas estarrecedoras indicando o assassinato de pelo menos um homossexual por dia,  mulheres idem, e de mais de 50 mil jovens negros e pobres por ano, uma estatística de guerra.

Reflitamos, também, sobre o assassinato e violação aos direitos dos negros e hispânicos nos EUA, país possuidor da maior população carcerária do mundo. Reflitamos sobre a brutalidade, a crueldade, a intolerância dos EUA contra o povo vietnamita, iraquiano, panamenho. Reflitamos sobre a brutalidade e a intolerância da “democrática” França contra o povo da Argélia, onde deixou pelo menos 1 milhão de mortos! Reflitamos sobre crueldade e intolerância à luz das estatísticas que apontam que quase metade da população carcerária na França é de emigrantes, dos  quais, metade é de muçulmanos!

Crescer sob ataque e sanções
O que não se informa é sobre o reduzido índice de analfabetos no Iran, sobre indicadores muito baixos de mortalidade infantil, além de ser possuidor de um cinema de altíssima qualidade, premiado no mundo inteiro, cinema estatal que reflete sobre os principais problemas da sociedade persa, dotado de tocante grau de humanismo na abordagem dos temas, sem concessões apelativas ao sensacionalismo rebaixado que se nota em outras partes. Assim como tem intensa atividade cinematográfica nacional, possui também indústria bélica moderníssima, com tecnologia totalmente nacional, única opção que lhe restou quando o país sofreu o boicote imperial e, depois, teve que defender-se da guerra lançada pelo Irak, por 8 anos, quando Sadam era manipulado por Donald Rumsfeld., ex-secretário de defesa de Bush, aquele que depois disse que era preciso invadir o Irak porque lá havia armas de destruição em massa, jamais comprovado. O Irã venceu a guerra. O Iraque foi invadido pelo seu antigo apoiador….

Imagine se um país como o Irã, com a tremenda riqueza petroleira  que possui, não tivesse sido capaz   --     graças ao impulso de sua revolução, que mobilizou o melhor da energia de sua juventude --   de desenvolver uma extraordinária  capacidade de defesa que, além de defender o povo persa, defende como política de estado a Causa Palestina, tendo se transformado em um dos principais aliados da Síria? A reflexão é desconcertante  para o Brasil que viu sua indústria bélica ser desmantelada sem resistência, juntamente com a internacionalização de sua telefonia, mineração, indústria de seguros e resseguros, medicamentos,  fertilizantes, além da indústria naval e aeronáutica. Só agora, graças à mudança de rumo dos últimos 12 anos, com Lula,  a indústria naval retoma novamente o caminho do desenvolvimento para voltar ocupar, em breve, a posição de ser uma das maiores do mundo.

Aposentando o dólar
Finalmente, a mensagem da política econômica e financeira do Irã. O País tem desenvolvido intensos e expansivos acordos econômicos e militares com a Rússia e a China, com a qual já comercializa petróleo e gás sem a presença de dólar, o que fortalece a soberania financeira da nação persa. O Irã é  um verdadeiro  eixo na região e tanto o Irak como a Síria mantêm com os persas relações econômicas, políticas e militares de alto nível.

Certamente, o processo sofre tensões internas, sabotagens externas, registra avanços e detenções,  linhas políticas por vezes injustificavelmente esperançosas, como a tentativa de um acordo nuclear com os países que são potências nucleares e, simplesmente, não querem admitir que o seleto e fechado clube abra suas portas para uma Nação com tamanha independência frente aos ditames imperiais de qualquer tipo.

Unidade anti-imperialista
Nesses 35 anos, o desfile de comemoração, que normalmente registra presença de mais de 6 milhões de pessoas em Teerã, foi precedido de uma inesperada tentativa do prefeito da capital persa de vetar a sua realização.. O que teria  levado o ex-presidente Mahmud Ahmadinejad, amigo de Chávez, de Lula e de Evo Morales, a publicar um contundente  artigo intitulado “Por que fizemos a revolução?” 

Não sem tensões, a manifestação foi convocada e liberada, apesar de intenções e vontades contrárias à sua realização. Uma tensão que pode estar sinalizando que mudanças políticas podem estar em curso. Não sendo cogitada nenhuma medida que não seja para consolidar o  ideal revolucionário vitorioso há 35 anos, sob a liderança do Aiatolá Khomeini, que continua a lançar mensagens instigantes e encorajadoras ao mundo, especialmente às nações que percebem a urgente  necessidade de formar uma ampla aliança de povos e países que comungam do ideal anti-imperialista, já que são visíveis as ações imperiais montadas como ameaças a humanidade e seu futuro!

*Beto Almeida, Jornalista, membro do Diretório da TeleSUR


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