por
Serge Lavrov
HISTERIA
"Se a democracia americana for destruída na próxima geração, não será destruída pelos russos ou pelos chineses, mas por nós próprios, pelos mesmos meios que usamos para a defender"
Senador J. William Fulbright
"American Militarism", 1970, Epilogue
"É uma tentativa de atirar as culpas para cima de outrem. O problema não é nosso. O problema está na política dos EUA… Quem perdeu foi a outra equipa. Não querem reconhecer o erro. É mais fácil dizer "A culpa não é nossa, a culpa é dos russos, eles interferiram nas nossas eleições". Faz-me lembrar o antissemitismo: a culpa é dos judeus, toda a culpa. Sabemos onde podemos chegar com estes sentimentos. Não chegamos a nada de bom. O que há a fazer é simplesmente trabalhar e pensar como endireitar as coisas"
"Se a democracia americana for destruída na próxima geração, não será destruída pelos russos ou pelos chineses, mas por nós próprios, pelos mesmos meios que usamos para a defender"
Senador J. William Fulbright
"American Militarism", 1970, Epilogue
"É uma tentativa de atirar as culpas para cima de outrem. O problema não é nosso. O problema está na política dos EUA… Quem perdeu foi a outra equipa. Não querem reconhecer o erro. É mais fácil dizer "A culpa não é nossa, a culpa é dos russos, eles interferiram nas nossas eleições". Faz-me lembrar o antissemitismo: a culpa é dos judeus, toda a culpa. Sabemos onde podemos chegar com estes sentimentos. Não chegamos a nada de bom. O que há a fazer é simplesmente trabalhar e pensar como endireitar as coisas"
Vladimir Putin
Presidente da Federação Russa,
(em resposta a uma pergunta da jornalista americana Megyn Kelly na reunião plenária do Fórum Económico Internacional em S. Petersburgo, a 2 de junho de 2017).
Presidente da Federação Russa,
(em resposta a uma pergunta da jornalista americana Megyn Kelly na reunião plenária do Fórum Económico Internacional em S. Petersburgo, a 2 de junho de 2017).
Em
18 de abril de 2019 a Embaixada da Federação Russa nos EUA divulgou o documento
"A histeria do Russiagate: Um caso de russofobia aguda", com 121
páginas – o qual foi ignorado pela maior parte dos media corporativos. Os
interessados em ler a íntegra do documento poderão descarregá-lo AQUI .
O presente texto, agora publicado, é o prefácio de autoria do ministro
dos Negócios Estrangeiros russo, Serge Lavrov.
"Acredito
que este problema tem raízes nos desenvolvimentos internos nos Estados
Unidos.
"Não estamos a gostar dos atuais desenvolvimentos, mas não fomos nós que os iniciámos. É distorcer a verdade dizer que isto é o castigo pela Ucrânia e pela Crimeia. Tudo começou com o Presidente Barack Obama, muito antes de Washington lançar o seu projeto da "revolução colorida" na Ucrânia. Começou com Edward Snowden, que ficou preso na Rússia porque não podia fugir para outro sítio qualquer – o passaporte dele foi cancelado. O Presidente dos EUA, o secretário de Estado e os diretores do FBI e da CIA pressionaram-nos para o entregar sem demora. Dissemos que não o podíamos fazer porque todas as informações disponíveis indicavam que ele enfrentava a pena de morte. Foi por isso que Obama proibiu contactos bilaterais e cancelou a sua visita antes da cimeira dos G20 em S. Petersburgo. A propósito, estávamos a preparar para essa reunião um acordo sobre mais uma redução de armas estratégicas ofensivas, que devia ser feita a seguir ao Tratado de Praga de 2010, assim como uma declaração que estabelecia uma agenda sobre estabilidade estratégica para muitos anos seguintes. A incapacidade de Obama de renunciar ao seu ressentimento pessoal enterrou um documento muito importante, que podia ser hoje de muita utilidade.
"A seguir, foram impostas sanções sobre o processo Magnitsky. Um olhar mais atento sobre o problema revelou que Bill Browder, que criou o alarido, teve problemas com a lei e não só com a lei russa. O gabinete do procurador-geral da Rússia fez acusações contra Browder nos Estados Unidos. Os tribunais americanos tiveram de reconhecer numerosos factos que apoiam as nossas suspeitas. Mas houve uma nítida interferência nos trabalhos do tribunal por aqueles não queriam aliviar a pressão sobre a Rússia, ou seja, pelo próprio Browder e pelos seus apoiantes. Por outras palavras, a Ucrânia não passou de mais um pretexto.
"A elite norte-americana não gostou das alterações verificadas na Rússia depois de Vladimir Putin se ter tornado nosso presidente, quando voltámos a pôr-nos de pé e reconquistámos a nossa independência. Mais importante ainda, começámos a pensar de forma independente e deixámos de dar ouvidos aos conselheiros que estavam infiltrados nos nossos ministérios principais nos anos 90.
"A derrota eleitoral do Partido Democrático forneceu o pretexto para impedir a normalização das relações com a Rússia. Três semanas antes de sair da Casa Branca, Barack Obama confiscou propriedade diplomática da Rússia. Isto aconteceu num país onde isso não pode acontecer por nenhuma razão, onde a propriedade privada é um direito sagrado e a propriedade de terceiros nunca pode ser tomada. Foi uma bomba relógio e esse relógio ainda está a trabalhar. Os Democratas fizeram o melhor que puderam para usar a carta russa a fim de criar o máximo prejuízo à atual administração. Quando uma grande nação gasta três anos a especular sobre a interferência estrangeira que, alegadamente, pré-determinou o resultado das eleições presidenciais, vemos isso como falta de respeito para com o grande povo americano.
"Por falar da turbulência eleitoral, gostava de me referir ao Partido Democrático. Contrariamente ao que a investigação chefiada pelo assessor especial Robert Mueller está a tentar provar, há factos sólidos que mostram que o Partido Democrático violou a lei quando usou de métodos ilegais para forçar Bernie Sanders a abandonar a corrida. Todos já se esqueceram disso, falando só sobre a Rússia em vez de falarem sobre o que está a acontecer nos Estados Unidos.
"Estamos abertos ao diálogo contanto que os Estados Unidos também estejam. O Presidente Vladimir Putin já disse isto mais de uma vez na sua reunião com o Presidente Donald Trump em Hamburgo, em 2017, em Helsínquia, no ano passado, assim como durante os seus contactos na cimeira dos G20 em Buenos Aires. Não queremos interferir, e não queremos dar razões para nos acusarem de interferências nas lutas e conflitos internos nos Estados Unidos. Temos uma agenda construtiva. Definimos uma série de áreas de cooperação, incluindo o establishment, com aprovação do nosso presidente, de um conselho comercial incluindo cinco, seis ou sete altos funcionários de cada uma das maiores empresas russas e norte-americanas. Tenho a certeza de que um conselho de alto nível como este seria um importante fator de estabilização, pelo menos para as nossas comunidades comerciais.
"Também propusemos a criação, se o nosso presidente o aprovar, de um conselho de importantes cientistas políticos russos e norte-americanos que podem ser encarregados de preparar uma agenda política. Apresentámos um extenso programa para um diálogo sobre estabilidade estratégica, incluindo o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (Tratado INF) e um futuro acordo sobre armas estratégicas ofensivas, assim como sobre a cooperação no espaço e sobre formas de impedir a sua militarização com consequências imprevisíveis. Puseram tudo isto em segundo plano. Não recebemos uma clara resposta a estas propostas. Quando os Estados Unidos iniciaram o processo de retirada do Tratado INF, o Presidente Putin disse, numa reunião com o ministro da Defesa, Sergey Shoigu e comigo, que havíamos falado, mais de uma vez, aos nossos parceiros americanos sobre todas estas nossas iniciativas, e que os nossos parceiros já as conheciam. Se optavam por ignorar essas iniciativas, não vamos continuar a bater a uma porta fechada e vamos deixar de falar aos nossos parceiros sobre as nossas iniciativas. Os nossos colegas americanos podem avisar-nos quando estiverem preparados. Estaremos dispostos a começar as conversações".
"Não estamos a gostar dos atuais desenvolvimentos, mas não fomos nós que os iniciámos. É distorcer a verdade dizer que isto é o castigo pela Ucrânia e pela Crimeia. Tudo começou com o Presidente Barack Obama, muito antes de Washington lançar o seu projeto da "revolução colorida" na Ucrânia. Começou com Edward Snowden, que ficou preso na Rússia porque não podia fugir para outro sítio qualquer – o passaporte dele foi cancelado. O Presidente dos EUA, o secretário de Estado e os diretores do FBI e da CIA pressionaram-nos para o entregar sem demora. Dissemos que não o podíamos fazer porque todas as informações disponíveis indicavam que ele enfrentava a pena de morte. Foi por isso que Obama proibiu contactos bilaterais e cancelou a sua visita antes da cimeira dos G20 em S. Petersburgo. A propósito, estávamos a preparar para essa reunião um acordo sobre mais uma redução de armas estratégicas ofensivas, que devia ser feita a seguir ao Tratado de Praga de 2010, assim como uma declaração que estabelecia uma agenda sobre estabilidade estratégica para muitos anos seguintes. A incapacidade de Obama de renunciar ao seu ressentimento pessoal enterrou um documento muito importante, que podia ser hoje de muita utilidade.
"A seguir, foram impostas sanções sobre o processo Magnitsky. Um olhar mais atento sobre o problema revelou que Bill Browder, que criou o alarido, teve problemas com a lei e não só com a lei russa. O gabinete do procurador-geral da Rússia fez acusações contra Browder nos Estados Unidos. Os tribunais americanos tiveram de reconhecer numerosos factos que apoiam as nossas suspeitas. Mas houve uma nítida interferência nos trabalhos do tribunal por aqueles não queriam aliviar a pressão sobre a Rússia, ou seja, pelo próprio Browder e pelos seus apoiantes. Por outras palavras, a Ucrânia não passou de mais um pretexto.
"A elite norte-americana não gostou das alterações verificadas na Rússia depois de Vladimir Putin se ter tornado nosso presidente, quando voltámos a pôr-nos de pé e reconquistámos a nossa independência. Mais importante ainda, começámos a pensar de forma independente e deixámos de dar ouvidos aos conselheiros que estavam infiltrados nos nossos ministérios principais nos anos 90.
"A derrota eleitoral do Partido Democrático forneceu o pretexto para impedir a normalização das relações com a Rússia. Três semanas antes de sair da Casa Branca, Barack Obama confiscou propriedade diplomática da Rússia. Isto aconteceu num país onde isso não pode acontecer por nenhuma razão, onde a propriedade privada é um direito sagrado e a propriedade de terceiros nunca pode ser tomada. Foi uma bomba relógio e esse relógio ainda está a trabalhar. Os Democratas fizeram o melhor que puderam para usar a carta russa a fim de criar o máximo prejuízo à atual administração. Quando uma grande nação gasta três anos a especular sobre a interferência estrangeira que, alegadamente, pré-determinou o resultado das eleições presidenciais, vemos isso como falta de respeito para com o grande povo americano.
"Por falar da turbulência eleitoral, gostava de me referir ao Partido Democrático. Contrariamente ao que a investigação chefiada pelo assessor especial Robert Mueller está a tentar provar, há factos sólidos que mostram que o Partido Democrático violou a lei quando usou de métodos ilegais para forçar Bernie Sanders a abandonar a corrida. Todos já se esqueceram disso, falando só sobre a Rússia em vez de falarem sobre o que está a acontecer nos Estados Unidos.
"Estamos abertos ao diálogo contanto que os Estados Unidos também estejam. O Presidente Vladimir Putin já disse isto mais de uma vez na sua reunião com o Presidente Donald Trump em Hamburgo, em 2017, em Helsínquia, no ano passado, assim como durante os seus contactos na cimeira dos G20 em Buenos Aires. Não queremos interferir, e não queremos dar razões para nos acusarem de interferências nas lutas e conflitos internos nos Estados Unidos. Temos uma agenda construtiva. Definimos uma série de áreas de cooperação, incluindo o establishment, com aprovação do nosso presidente, de um conselho comercial incluindo cinco, seis ou sete altos funcionários de cada uma das maiores empresas russas e norte-americanas. Tenho a certeza de que um conselho de alto nível como este seria um importante fator de estabilização, pelo menos para as nossas comunidades comerciais.
"Também propusemos a criação, se o nosso presidente o aprovar, de um conselho de importantes cientistas políticos russos e norte-americanos que podem ser encarregados de preparar uma agenda política. Apresentámos um extenso programa para um diálogo sobre estabilidade estratégica, incluindo o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (Tratado INF) e um futuro acordo sobre armas estratégicas ofensivas, assim como sobre a cooperação no espaço e sobre formas de impedir a sua militarização com consequências imprevisíveis. Puseram tudo isto em segundo plano. Não recebemos uma clara resposta a estas propostas. Quando os Estados Unidos iniciaram o processo de retirada do Tratado INF, o Presidente Putin disse, numa reunião com o ministro da Defesa, Sergey Shoigu e comigo, que havíamos falado, mais de uma vez, aos nossos parceiros americanos sobre todas estas nossas iniciativas, e que os nossos parceiros já as conheciam. Se optavam por ignorar essas iniciativas, não vamos continuar a bater a uma porta fechada e vamos deixar de falar aos nossos parceiros sobre as nossas iniciativas. Os nossos colegas americanos podem avisar-nos quando estiverem preparados. Estaremos dispostos a começar as conversações".
Serge Lavrov
Ministro dos Estrangeiros da Rússia
(Notas sobre uma reunião com a Associação Europeia de Negócios, Moscovo, 2/fevereiro/2019)
O original encontra-se em resistir.info/russia/the_russiagate_hysteria.pdf .
Tradução de Margarida Ferreira.