JAIR BOLSONARO mais uma vez virou chacota
internacional. Após visitar o Memorial do Holocausto em Israel, escreveu no
livro de visitas do museu: “aquele que esquece seu passado está condenado a não
ter futuro”. Minutos depois, em entrevista aos jornalistas brasileiros,
Bolsonaro desrespeitou a memória das vítimas do holocausto ao dizer que o
nazismo foi um movimento de esquerda. É uma versão fabricada por doentes
que não encontra respaldo de nenhum historiador vivo ou morto, de esquerda ou
de direita, mas que virou um hit da internet na Nova Era. Nunca houve dúvidas
de que o nazismo abominava os ideais de esquerda, tanto que judeus dividiam os
campos de concentração e as câmaras de gás com esquerdistas.
É inacreditável
que tenhamos que entrar nesse falso debate para defender uma obviedade
histórica: o nazismo foi um regime de extrema direita. E dessa vez não foi o
youtuber Nando Moura babando em seu canal que colocou o assunto em pauta, mas o
maior representante do Brasil ao sair de um museu israelense, criado para
contar a história dos 6 milhões de judeus mortos pelo nazismo. O próprio
memorial visitado pelo presidente define o regime nazista de Hitler como sendo
de extrema direita. Até mesmo o ministério das relações exteriores israelense
teve que confirmar
publicamente que Bolsonaro está errado. É uma vergonha para os brasileiros.
Mas enquanto
Bolsonaro joga o nazismo alemão no colo da esquerda, nazistas brasileiros
combatem as esquerdas e veneram Bolsonaro. Os fatos falam por si.
Em 2011, quando
Bolsonaro fez declarações homofóbicas no CQC e respondeu a
Preta Gil que não correria o risco de ver seus filhos apaixonados por uma negra
porque foram bem educados, grupos neonazistas organizaram um ato de apoio ao
então deputado no Museu de Arte de São Paulo, o Masp. “Quando vi o que estão
fazendo com ele, entrei na comunidade. Sou fã do dep. Jair Bolsonaro’ do Orkut
e lancei a ideia de fazer um ato cívico na Paulista”, contou o
extremista de direita Marcio Galante para o Diário de São Paulo. Segundo ele,
participariam do ato organizações militares extra-quartel, separatistas,
católicas radicais e grupos de extrema direita. O ato de apoio a Bolsonaro
também foi convocado no
fórum “Stormfront.org”, comandado pelo movimento neonazista
internacional White Pride Worldwide. Um membro do fórum chamado “Erick White”
escreveu: “Vamos dar o nosso apoio ao único Deputado que bate de frente com
esses libertinos e Comunistas!!! Será um manifesto Cívico, portanto, levem a
família, esposas, filhos e amigos”. O convite para o ato é finalizado com um
“14/88″. O número 14 refere-se às 14 palavras da frase do supremacista branco
americano David Lane: “Devemos assegurar a existência de nosso povo e um futuro
para as Crianças Brancas”. Já o número 88 significa “Heil Hitler”, com o número
8 representando a letra H, a oitava do alfabeto.
Bolsonaro afirmou
que não poderia estar presente, mas apoiou o ato:
“Fico feliz se o movimento for voltado contra as propostas que estão aí, de
invadir as escolas de primeiro grau simulando o homossexualismo e preparando
nossos jovens para a pedofilia”.
Estiveram
presentes ao ato vários grupos neonazistas como o Kombat RAC (Rock Against
Communism) e o Ultra Defesa. Alguns se identificavam com roupas, bandeiras e
tatuagens alusivas ao nazismo. Grupos de esquerda apareceram no Masp para
protestar contra os nazistas, e o clima ficou tenso. A Polícia Militar precisou
fazer um cordão de isolamento para evitar o confronto. No mundo inteiro,
aliás, episódios de
pancadaria entre esquerdistas e neonazistas nas ruas acontecem
com frequência. Se eles conhecessem a História segundo Bolsonaro, estariam se
beijando.
Eduardo Thomaz,
líder do Ultra Defesa, afirmou “a
gente está dando apoio ao deputado Jair Bolsonaro porque ele representa a
família brasileira e nós temos o direito de apoiá-lo”. Em seu site, o Ultra Defesa afirma que
seus princípios fundamentais são “Deus, Brasil e Família”. Os integrantes do
grupo também são adeptos da “Saudação Romana”,
que é o ato de estender o braço para a frente com a palma da mão para baixo.
Sim, aquele mesmo gesto utilizado para saudar Adolph Hitler.
Policiais civis
que investigam crimes de intolerância estiveram presentes no Masp e
identificaram manifestantes pró-Bolsonaro que já foram presos por ações
violentas contra minorias. Sete deles foram detidos. Entre eles, um dos
neonazistas responsáveis pelo atentado à bomba
na Parada Gay de 2009.
Durante as
eleições, Bolsonaro entrou com uma ação por danos morais contra uma charge que
o associava ao nazismo. A desembargadora Cristina Tereza Gaulia negou o pedido.
Ela justificou afirmando que, se Bolsonaro não ficou constrangido em aparecer
na foto com um correligionário fantasiado de Hitler, não haveria também dano
moral na charge.
A foto (No
original) é essa: O sósia de Hitler (refiro-me ao homem à direita na foto) é o
Professor Marco Antonio, que foi candidato a vereador do Rio de Janeiro pelo
PSC, o mesmo partido de Bolsonaro à época.
Carlos Bolsonaro
chegou a convidá-lo para
discursar numa sessão sobre o projeto Escola sem Partido na
Câmara do Rio, mas Marco Antonio foi impedido pelo presidente da sessão por
estar fantasiado de Hitler. O professor nega ter feito cosplay do ditador
nazista. Afirmou que foi à Câmara com “cabelo cortado no estilo militar e
estava com bigode estilo francês”.
A candidatura de
Professor Marco Antonio chegou a receber
doação financeira de Flávio Bolsonaro para a sua campanha.
Em 2015, Jair Bolsonaro começava a construir
sua candidatura viajando pelo Brasil. Quando foi a Recife (PE), muita gente
apareceu no aeroporto para recepcionar a família Bolsonaro, entre eles um
skinhead dos Carecas do Brasil. O grupo é acusado pelo Ministério Público por
ter espancado um
jovem negro e gay em Recife. Também são suspeitos de
espalhar cartazespela cidade com a frase “Hitler tinha razão”.
Em 2013, neonazistas mineiros foram presos
por apologia ao nazismo, entre outros crimes. A investigação começou depois que
um integrante postou foto no Facebook enforcando um morador de rua com uma
corrente de aço numa avenida em Belo Horizonte. Na casa de um deles, a
polícia apreendeu os
seguintes objetos: “um livro sobre Hitler; uma touca ninja; uma
camisa preta do Movimento Pátria Nossa; um envelope contendo uma carta enviada
por Jair Bolsonaro”.
Sim, o então
deputado escreveu para um nazista brasileiro. A carta foi encaminhada para a
apuração do Ministério Público. O conteúdo dela não é conhecido, pois o
processo corre sob segredo de Justiça. Pode não ser nada demais. Pode ser
apenas uma carta com conteúdo de campanha eleitoral padrão, mas também pode não
ser. Pelo fato de ter sido apreendida e enviada para averiguação do MP, suponho
que o seu conteúdo não seja tão inocente. Aliás, a imprensa não deveria mais
ficar perguntando para o Bolsonaro se o nazismo é de direita ou de esquerda,
como fez em Israel. A gente já conhece a resposta. Tem que perguntar o que
tinha naquela carta enviada para o seu simpatizante nazista de Minas Gerais. É
um direito do brasileiro conhecer que tipo de relação seu presidente mantinha
com um extremista criminoso.
É evidente a
sintonia entre algumas das principais pautas de Bolsonaro e as dos nazistas: o
ataque às minorias, a defesa da família, o nacionalismo e o combate ao
comunismo. Isso não faz de Bolsonaro um nazista, mas não deixa dúvidas de que o
bolsonarismo e o nazismo estão em espectros ideológicos muito próximos. Mas
muito mesmo. Bolsonaro pode não ser nazista, mas tem amigos que são.
Nenhum comentário:
Postar um comentário