terça-feira, 17 de novembro de 2009

Energia e linha férrea transafricana animam perspectivas económicas pós-crise de Moçambique

Maputo, Moçambique, 16 novembro 2009 – Os projectos energéticos e da linha férrea transafricana, que deverá ter um pólo no porto de Nacala, animam as perspectivas para Moçambique emergir da actual crise, que cortou para metade o ritmo de crescimento económico.

Paulo Zucula, ministro dos Transportes e Comunicações, revelou recentemente que o projecto ferroviário Cairo-Cabo, dinamizado pela Nova Parceria para o Desenvolvimento Africano (NEPAD), prevê que um dos pontos estratégicos de conexão seja o porto de Nacala, na província nortenha de Nampula.

Daí, referiu, será feita a ligação para Malaui, Tanzânia, Zâmbia, República Democrática do Congo e resto do continente, segundo o esboço preliminar.

Em termos de infra-estruturas, defendeu em declarações ao diário Correio da Manhã, Moçambique já deu o seu contributo, “só falta reconstruir alguns troços das linhas férreas dos Caminhos de Ferro de Moçambique espalhadas pelo país fora”, adiantou.

O projecto, que envolve ainda a União Africana e a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), está orçado em 1,2 mil milhões de dólares e já tem investimento assegurado junto de instituições financeiras internacionais, adiantou.

Para as autoridades moçambicanas, a linha férrea transafricana permite contrariar a tendência de quebra do investimento estrangeiro no país, que deverá manter-se até, pelo menos, final de 2009, segundo relatório recentemente divulgado pelo Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento (grupo Banco Mundial).

Apesar dos efeitos da crise na vizinha África do Sul e países da União Europeia estarem a afastar os capitais, a mesma fonte adianta que Moçambique “tem acesso fácil aos financiamentos externos, o que deverá assegurar a sustentabilidade da sua dívida no actual ambiente internacional caracterizado pela falta de liquidez”.

“Moçambique é considerado como um dos exemplos mais bem sucedidos de transição pós-conflito, atraindo um apoio sustentado por parte dos doadores” e, graças à estabilidade alcançada, existem mais países interessados em juntar-se ao grupo dos 19 actuais parceiros programáticos.

Segundo a empresa internacional de consultoria Frost & Sullivan, outra importante fonte de investimento e de receitas de exportação deverá ser nos próximos anos a exportação de energia eléctrica.

Em relatório recentemente divulgado, a consultora estima que as receitas de consumo e exportação de energia eléctrica moçambicana aumentem de cerca de 202 milhões de dólares (2008) para perto de 455,5 milhões de dólares em 2015.

A subida sustenta-se no consumo nos países vizinhos, em particular da África do Sul, para onde Moçambique poderá vir a exportar mais 9.000 megawatts, mas também internamente com o arranque de unidades industriais de grande dimensão, desenvolvimento da agricultura industrial e ao programa de electrificação rural previsto pelo governo moçambicano.

Nos próximos seis anos, a procura de energia eléctrica moçambicana deverá crescer perto de 11 por cento, pelo que as autoridades estão a trabalhar afincadamente na atracção de investimentos para projectos como a nova central de Cahora Bassa ou a nova barragem de Mpanda Nkua, adianta.

Depois de um período em que o crescimento rondou oito por cento ao ano, a economia moçambicana deverá ficar-se este ano por uma subida de 4,5 por cento.

De acordo com os dados mais recentes do Fundo Monetário Internacional, o crescimento deverá acelerar para 5,5 por cento em 2010 e para 6 por cento a médio prazo.

Espera-se que a recuperação da procura externa permita estabilizar o défice corrente em 10 por cento do PIB e consolidar as reservas internacionais, que têm estado a ser suportadas por injecções de capital do FMI.

“O abrandamento da política monetária criou espaço para uma forte expansão do crédito ao sector privado, permitindo que as empresas domésticas substituam o rarefeito financiamento estrangeiro por um maior recurso ao sistema bancário doméstico”, refere o relatório divulgado no final de Setembro, após visita de uma missão do Fundo ao país.

“As fortes bases de Moçambique e conjugação de políticas macroeconómicas prudentes na última década asseguraram a necessária flexibilidade para responder à crise económica global”, adianta. (macauhub)

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