quarta-feira, 17 de junho de 2015

Moçambique/NO 55.º ANIVERSÁRIO DO MASSACRE: MUEDA CURVA-SE AOS MÁRTIRES

17 Junho 2015, Jornal Noticias http://www.jornalnoticias.co.mz (Moçambique)


A Vila de Mueda, na província de Cabo Delgado, tornou-se pequena ontem para acolher as milhares de pessoas que para ali se deslocaram para recordar o histórico movimento de união pela independência, que pela sua dimensão jamais se apagará da memória dos moçambicanos.

A homenagem aos mártires de Mueda tornou esta vila, por algumas horas, o principal centro político e histórico, para onde convergiam as atenções de todo o país.

Do ponto de vista histórico fica claro que passam cinco décadas e meia após o Massacre de Mueda, e o 16 de Junho de 1960 permanece na memória dos moçambicanos.

Trata-se, esta, de uma data emblemática, cujo valor e significado histórico são incontestáveis para o país e para a história da libertação, porque, segundo rezam os factos, foi em Mueda onde se ergueu o primeiro punho, a primeira manifestação clara de que os moçambicanos não podiam viver sob dominação colonial.

Aliás, esta dimensão de Mueda ficou vincada nos discursos, depoimentos e encenação que marcaram
a homenagem dos 55 anos após o massacre, ao convergirem na necessidade da consolidação da unidade nacional, da cultura de paz e democracia como pilares do desenvolvimento socio-económico de Moçambique.

Do ponto de vista histórico percebe-se que ontem assim como hoje faz diferença continuar a insistir na unidade como ponto de partida para todas as batalhas. É verdade que há cinco décadas e meia o povo se uniu para exigir a independência. Hoje a união é um imperativo para enfrentar os desafios suscitados e perseguidos com a independência do país do jugo colonial. O epicentro destes desafios é o desenvolvimento socioeconómico por todos almejado. 

A partir do planalto dos macondes o Chefe do Estado, Filipe Nyusi, voltou a recordar que só o povo unido e em paz é que pode augurar o alcance do bem-estar para todos.
A mensagem de paz e união viria a ser repetida também pelas congregações religiosas representadas pela Igreja Católica, pela Comunidade Muçulmana, Conselho Cristão de Moçambique e pelos partidos políticos.
                                                                     
Para um jovem país, que no próximo dia 25 de Junho completa 40 anos de independência, faz sentido recordar os seus mártires e, acima de tudo, não deixar morrer o espírito que norteou as manifestações de Mueda ­- a união de esforços para o alcance dum bem maior e precioso.

Mueda acolhedora
Desde as primeiras horas do dia um intenso movimento de gente ida de vários pontos de Cabo Delgado, e não só, prenunciava que o dia era mesmo de festa.

Grupos organizados, com trajes a condizer, grupos culturais das mais diversas manifestações e populares, no geral, coloriram o momento da homenagem aos mártires de Mueda.
Como é comum nestas ocasiões, o rufar dos tambores emprestou vida ao ambiente e a população não se fez de rogado, entrando de imediato no ritmo.
A chegada do Chefe do Estado, Filipe Nyusi, pouco depois das dez horas, “aqueceu” ainda mais o ambiente de festa. As milhares de pessoas que acorreram ao aeródromo local saudaram efusivamente o “filho da terra” e viveram cada momento da sua presença e da homenagem aos mártires com intensidade.

Antes de dirigir um comício popular Nyusi depôs uma coroa de flores no memorial erguido em homenagem aos mártires, visitou a feira agro-pecuária e a exposição no Centro de Interpretação Histórica local.

No quadro desta homenagem, Mueda foi o centro das atenções de todos os moçambicanos. Mau-grado as telefonias móveis não terem correspondido à festa com a mesma dinâmica. Quando mais se precisava de comunicação esta falhava devido ao congestionamento.

A Televisão de Moçambique e a Rádio Moçambique também se ressentiram nalgum momento da quebra da comunicação via fibra óptica.

Estima-se que mais de 50 mil pessoas tenham marcado presença neste acto de homenagem. À Mueda chegaram também populares de distritos circunvizinhos idos de autocarros, mini-“buses” ou mesmo de bicicleta.

Aliás, é comum nesta região a população não se alhear a eventos desta natureza. Tudo foi preparado ao pormenor para permitir que as celebrações ocorressem sem sobressaltos.
A população foi mobilizada para ceder as suas casas para os hóspedes, uma vez que as pensões existentes não são suficientes para acomodar os presentes. Outras delegações tiveram mesmo de recorrer a distritos circunvizinhos para se acomodarem.

Os argumentos da História
O massacre de Mueda, a 16 de Junho de 1960, escrevem os historiadores, foi um dos últimos episódios da resistência dos moçambicanos à dominação colonial antes do desencadear da luta armada de libertação nacional.

Naquela data um grupo de moçambicanos idos da Tanzania solicitou uma reunião com a Administração colonial, que terminou com a morte, a tiro, de perto de 600 moçambicanos. A reunião teria sido solicitada para pedir a independência do jugo colonial e a ela acorreram também camponeses da região unidos pelo mesmo ideal, o fim da exploração colonial.
O massacre, segundo escrevem, poderia ser uma demonstração de força por parte das autoridades para dissuadir os moçambicanos de lutarem pela independência.

O massacre de Mueda, segundo historiadores, cristaliza o conjunto de indicações segundo as quais o regime colonial nunca abdicaria do poder pacificamente e, portanto, só pela força das armas poderiam os moçambicanos aspirar à sua independência.

Assim, Mueda permanece sobretudo como ilustração do funcionamento do sistema colonial, das suas contradições internas e da necessidade de violência que o Estado colonial tinha para se manter quando já não era capaz de responder às pressões populares.

A encenação do massacre e os testemunhos prestados ontem, por ocasião da homenagem, circunscreveram-se à volta deste contexto.

Depois da independência o dia 16 de Junho passou a ser comemorado como o Dia do Massacre de Mueda. Foi também nesta data, em 1980, que se inaugurou a nova moeda nacional de Moçambique, o Metical. (Osvaldo Gemo, em Cabo Delgado)

Valorizar a nossa história
OS trágicos acontecimentos que marcaram o genocídio de 16 de Junho de 1960 em Mueda, Cabo Delgado, devem ser assumidos pelos jovens como ponto de referência no processo que nos levou à independência nacional, recomendou ontem, em Xai-Xai, a governadora de Gaza.

Falando na Praça dos Heróis Moçambicanos momentos após depor uma coroa de flores, no quadro das cerimónias do Dia dos Mártires de Mueda, da criação do Metical e da Criança Africana, Stella Pinto Zeca defendeu que os jovens devem ter o domínio da nossa história para que possam efectivamente valorizar as conquistas dos moçambicanos.

Acrescentou ser necessário preservar e consolidar a unidade nacional, um poderoso instrumento que “nos permitiu vencer o colonialismo português, e na actual fase determinante para a erradicação da pobreza e promoção do desenvolvimento harmonioso da nação moçambicana”.

Segundo Stella Zeca, para estes objectivos continua imprescindível que todos se unam em prol da paz, condição indispensável para se garantir o bem-estar de todos os cidadãos.

Na ocasião a governadora da província de Gaza apelou a todos para se unirem também contra os casamentos prematuros, abuso sexual de menores e o trabalho infantil bem como na valorização da nossa moeda, através da sua conservação, e aumento da produção e da produtividade em todos os domínios, porque, segundo ela, só desta forma estaremos a contribuir para a valorização das nossas conquistas.

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