7 maio 2013, Radio Moçambique http://www.rm.co.mz
Mário Machungo*
Este artigo sintetiza tópicos que nos remetem para a ponderação de diversos factores relacionados com o crescimento económico de Moçambique nos últimos anos e os desafios que se lhe apresentam no cenário da actual conjuntura económica internacional.
Com efeito, os
principais drivers deste crescimento repousam num modelo baseado no
investimento directo estrangeiro, com particular realce para os sectores de
recursos naturais (carvão e gás), assim como infra-estruturas de energia,
caminhos-de-ferro e portos. Por arrastamento, os sectores tradicionais do
agroprocessamento, o turismo e a reconstrução do tecido social complementam
aqueles sectores. Deste modo, convive-se com a dicotomia entre os grandes
investimentos orientados para o sector de exportação e de capital intensivo e
os tradicionais, de trabalho intensivo
, e que, pela sua natureza e grandeza, se enquadram no mercado como price takers (algodão, chá, tabaco, etc.). O primeiro grupo com maior peso nas exportações (mais de 75%: alumínio, gás, energia e ilmenite) e o segundo, mais vulnerável à volatilidade do preço nos mercados internacionais, com menos peso nas contas nacionais. Desde logo surgem várias questões críticas a respeito dos efeitos desta dicotomia:
, e que, pela sua natureza e grandeza, se enquadram no mercado como price takers (algodão, chá, tabaco, etc.). O primeiro grupo com maior peso nas exportações (mais de 75%: alumínio, gás, energia e ilmenite) e o segundo, mais vulnerável à volatilidade do preço nos mercados internacionais, com menos peso nas contas nacionais. Desde logo surgem várias questões críticas a respeito dos efeitos desta dicotomia:
Os grandes investimentos com
efeitos insignificantes no emprego e, por conseguinte, sem expressão em termos
de consumo, e os efeitos multiplicadores, numa óptica de choque à procura
agregada;
Os grandes projectos
com um modelo de desenvolvimento em que na fase de investimentos acarretam
grande défice em termos de balança de transacções correntes por duas razões: 1)
pela importação de equipamentos; e 2) pela remuneração de factores de produção
do exterior, muito particularmente juros, royalties e dividendos;
As grandes empresas sem
impacto significativo na arrecadação de receitas fiscais, mas com efeitos
negativos sobre o meio ambiente;
As grandes empresas com
mercado estabelecido através de contratos específicos de venda, e importantes
para o fecho do financiamento;
Os grandes
investimentos com pacotes de financiamentos concebidos do exterior;
As empresas do sector
tradicional, mais vulneráveis a riscos do mercado (price takers), algumas com
mercado no Sul da Europa (caso do camarão, Espanha), e situações climatéricas
adversas recorrentes, apresentam-se fragilizadas em termos de atractividade no
retorno, na captação do financiamento, mas que, em contrapartida, empregam mais
pessoas e provocam efeitos significativos ao nível do bem-estar social das
comunidades.
Um modelo que se
aproxima ao desiderato de crescimento e combate à pobreza.
O dilema do modelo de
crescimento deverá também ser analisado no contexto da conjuntura económica
internacional, onde se salientam determinados riscos de natureza sistemática a
que os contratados supracitados não escapam. Com efeito, a crise económica e
financeira do Ocidente teve impactos assinaláveis em termos de quebra de preços
de produtos energéticos e no fluxo de financiamento, em razão de maior aversão
ao risco nos países emergentes. No cenário actual, em que é visível a alteração
na correlação de forças a favor dos BRIC (Brasil, Rússia, Índia, China e África
do Sul), o crescimento destas exportações de vários países é sustentado pela
reorientação das mesmas para estes mercados. Não admira, pois, que o Brasil e a
Índia estejam muito interessados no carvão, enquanto a África do Sul há muito
que se posicionou para os recursos energéticos (Sasol, além da compra de
energia a HCB). Os riscos, todavia, só serão mitigados se: 1) estes países
empreenderem medidas que aumentem o poder de compra nos mercados internos, por
forma a isolar o risco de correlação com o Ocidente, risco decorrente do modelo
de exportações destas economias; 2) reorientarem as poupanças para o
investimento em activos reais e em sectores de extracção de matéria-prima, numa
óptica de diversificação das aplicações fora dos títulos do Tesouro do
Ocidente.
Estes desafios
colocam-se ao nível das políticas económicas e o posicionamento do sector
financeiro para acompanhar esta evolução. Moçambique conseguiu com sucesso
implementar reformas económicas, e hoje os frutos destes sacrifícios são
visíveis: um sectror privado nacional dinâmico, um sector financeiro moderno,
políticas fiscais e monetárias prudentes. No entanto, a nova dinâmica impõe
riscos que decorrem de:
. Os prováveis efeitos
do dutch disease, num cenário em que as políticas monetárias tiveram sucesso na
desinflação. Esta situação é frequente nos países em que ganhos extraordinários
são originados pela descoberta de recursos naturais, implicando a entrada em
grande escala de divisas. Conduz à inflação de bens não transaccionáveis,
encarece a vida da população e consolida a oligarquia financeira associada aos
grandes investimentos;
Os efeitos sobre o meio
ambiente em termos da redução dos níveis de produtividade da terra, assim como o
trade-off que implica em relação ao turismo de sol e praia. Repare-se nos
efeitos deste sector em toda a cadeia de valor;
As políticas fiscais
necessárias para acomodar a necessidade de infra-estruturas, o crowding-out do
investimento privado, a incapacidade da banca no financiamento de grande
projectos, as ligações ao mercado externo e consequentes riscos de contágio, o
cruzamento de políticas monetárias com as fiscais no estímulo à procura,...
enfim, são vários os desafios a enfrentar no futuro próximo.
Mário
Machungo - Ex-Primeiro Ministro de Moçambique,
presidente do conselho de administração do banco Millennium BIM e presidente do
Comité de Gestão do Lide Moçambique
Artigo extraido do
expresso.sapo.pt
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